
Em 1965, um ano após o golpe militar, eu e o Bernardo Ferraro, companheiro do movimento estudantil, saímos de Niterói para “tomar” a Rádio Coroados, de São Fidélis, cidade do norte do Estado do Rio de Janeiro.
Depois de seis horas de viagem, fomos direto para a rádio, carregando discos, e um belo e retumbante discurso, denunciando os ataques sucessivos da ditadura militar às liberdades individuais e coletivas.
Já era noite e no estúdio, apenas meu amigo Valdir Vieira, que já me esperava. Alguns dias antes, eu havia combinado com ele, que após rodar algumas músicas de protesto eu iria ler um manifesto.
Rodamos a primeira música, Maria Moita, de Carlos Lyra, e assim que comecei a leitura, denunciando as prisões, torturas, cassações de mandatos, intervenções nos sindicatos e entidades estudantis, chegou o dono da rádio com um pedaço de pau na mão e bradando palavrões contra os “comunistas, agitadores e subversivos”. Disse que ia entregar-me para o DOPS, que eu seria preso quando chegasse em Niterói.
Rapidamente, eu e Bernardo, juntamos nossos long-plays e disparamos, ainda a tempo de pegar o ônibus para Campos dos Goytacazes e de lá rumamos para Niterói.
Depois dessa, nunca mais eu vi o Bernardo Ferraro. A gente se desencontrou nos caminhos da Resistência.
Valdir Vieira saiu da rádio de São Fidélis e foi pro Rio, onde se tornou uma celebridade. Durante 15 anos foi campeão de audiência, comandando o Programa Valdir Vieira, da Rádio Globo.
Aluízio Palmar, é jornalista, e fundador do CDHMP de Foz do Iguaçu. Em 1969, foi preso e em 1971, banido do País, após ser trocado juntamente com outros presos políticos, pelo embaixador da Suiça. É autor do livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?” e em 2020, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedida por entidades de direitos humanos e movimentos sociais. É editor do portal Documentosrevelados.com.br

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