
A mídia normatiza o genocídio do povo negro e pobre quando estampa em manchetes no noticiário “POLÍCIA CONFUNDE”.
Polícia “confunde” bíblia, furadeira, guarda-chuva, macaco hidráulico, marmita e madeira com fuzil. Até um saco de pipoca na mão de um adolescente negro é motivo para atirar na cabeça e matar. Polícia se confunde e não hesita: atira e mata! Na maior parte dos casos, são pessoas negras e todas moram em bairros periféricos.
Polícia “confunde” e mata pobre e preto na favela, mas nunca se confunde quando vê branco, rico, que mora no condomínio, que é um grande empresário ou banqueiro. Toda essa matança é justificada pela tal guerra contra o tráfico de drogas.
Até quando aceitaremos essa confusão seletiva? Por que fora das periferias, os policiais não se confundem? Aliás, as rondas para encontrar drogas e traficantes só acontecem nas favelas. Todos sabemos que a mesma droga vendida no morro e no bairro periférico circula nas festas dos ricos, nas baladas dos “playboys”. Será que os grandes empresários traficantes moram na favela?
Até hoje ninguém sabe a quem pertencia o helicóptero que carregava meia tonelada de cocaína no ano de 2013. A mídia faz questão de esconder o caso quando os interesses políticos e financeiros da elite aparecem em cena. Nesses casos, a guerra contra as drogas não tem mais importância. E sabe por quê? Porque as drogas nunca foram o problema, e sim a justificativa para matar ou encarcerar pobre e favelado. Usam desse argumento “as drogas” para moralizar a barbárie sob o pretexto de combate ao crime organizado. Enquanto isso, os grandes traficantes de substâncias ilícitas circulam tranquilamente pelos espaços públicos posando de profissionais honrados, e “cidadãos de bem”.
Existem vários estudos e debates sobre a problemática da violência policial. Os fatores apontados para entender esse fenômeno social são muitos, mas o principal, sem sombra de dúvidas é o racismo estrutural. Nossa herança escravocrata ainda está no imaginário social, na nossa cultura, nos costumes.
Lutar contra o racismo é tarefa de todos, pois a omissão e a conivência em situações do nosso cotidiano reforçam o mesmo racismo policial que mata o povo negro e periférico.
Cristiane Real Ramos é assistente social, especialista em Políticas Públicas, militante do PSOL e ativista de movimentos sociais em defesa dos direitos humanos.

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