O ATUAL FENÔMENO DO EXTREMISMO NO BRASIL – LIGIA BACARIN

Com a vitória do Presidente Lula nas urnas, observamos boquiabertos a escalada de ações políticas de extrema direita por parte de uma ala bolsonarista que, por meio de atos extremistas, pretendem golpear a democracia brasileira. São atos que saltaram de acampamentos nas portas dos quartéis (aliás com uma justificativa inconstitucional, uma vez que reivindicavam uma intervenção militar no Estado Democrático de Direito) e aterrissaram no puro terrorismo do dia 8 de janeiro. Há diversas linhas de análise para que possamos compreender esse fenômeno do extremismo no Brasil e escolhemos a psicologia social como o pontapé inicial para identificar algumas características desse problema. Socialmente, comportamentos extremistas são observados em diversos contextos: religioso, esportivo, étnico, cultural etc. Por que o extremismo político é diferente? Para nos ajudar a responder, contamos com o conceito de Script Social, usado por Andréia Giacomozzi, professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina e pelo International PhD in Social Representation, Culture and Communication da Sapienza, Università degli Studi di Roma.

Giacomozzi ensina que Script Social é um termo da psicologia cognitiva para explicar o conjunto de ideias que são vivenciadas como se fossem instruções fechadas a serem seguidas. Dessa forma, não importa a qualidade do contraponto ou a realidade dos fatos, pois estão fora das instruções, fora do roteiro a ser seguido. Apesar de observarmos alguns casos de adoecimento psíquico social, o mesmo não se enquadra no conceito de Script Social, uma vez que não é uma “patologia social”. O Script ocorre porque dois elementos da contemporaneidade são a tônica do construto cognitivo social: Internet e Fake News.

É importante sabermos que nas redes sociais, tais como Facebook, Telegram, Twitter e Instagram, existe um organizador de conteúdo chamado Algoritmo. O qual, em resumo, é a tecnologia por trás da rede social que determina qual conteúdo aparecerá para qual usuário e em que ordem isso vai acontecer. Com isso, a lógica dos algoritmos tornou possível criar perfis e iludir o usuário com a sensação de que as mensagens não são desconhecidas, mas personalizadas e falam para o interesse de cada um. É nesse universo que o Script Social age, uma vez que se forma um discurso comum. Nesse sentido, é um campo propício para os representantes políticos, uma vez que criam o cenário intimista, personalizado, afetivo, tendo como objeto do discurso a pessoa e não a multidão. O líder político não faz comício sem identificação pessoal, mas ilusoriamente fala o que cada um quer ouvir. E com essa estratégia, a afetividade se torna um laço entre o emissor e o receptor da mensagem, visto que as exigências particulares de cada um são falsamente representadas.

Nesse caminhar, o extremismo político se constrói também por meio das redes sociais, passam a ser o campo do embate político e da esfera pública, o que torna possível a crença em um conjunto fechado de informações que são falsamente individualizadas de acordo com o que cada usuário quer acreditar. O “mundo real” se torna personalizado e ocorre uma mudança da espacialidade, as pessoas passam a viver no espaço das redes sociais.
Como o Script Social roteiriza exatamente um conjunto de ideias sobre a realidade que partem não dos fatos, mas das angústias, medos, miserabilidade e até mesmo preceitos morais, torna-se fácil cooptar um grupo de pessoas que possuem uma conectividade criada pelo algoritmo (em analogia, o algoritmo consegue conectar cada qual com sua tribo) a seguirem o mesmo roteiro. Para preencher as lacunas desse Script Social (pois como ele é ilusório, se desmancha com facilidade, caso não tenha pontos de coesão) recorre-se ao conceito de acolhimento e, para os extremistas – no caso, os bolsonaristas – acolhimento significa aceitação do pensar sem analisar, sem problematizar. Acolhe-se porque está no Script, desse modo há um forte sentido de união, de grupo, uma coletividade no entorno de uma pessoa.

Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin é professora de História na rede pública de ensino. Com mestrado em Fundamentos da educação e pós graduação em Educação Especial. Militante do Psol-PR e colaboradora nas mídias sociais da Geração 68.


Respostas

  1. Avatar de ANTONIA MARIA NAKAYAMA

    O script social explica muito bem o que percebemos no comportamento Bolsonarista.

  2. Avatar de Isabel Perez

    Interessante abordagem, Lígia. Outras perspectivas também podem se juntar à sua para ampliar o olhar sobre este fenômeno delicado e complexo.

  3. Avatar de Rose Teles

    Como as pessoas saem desse Script Social tão perverso? Insano demais!

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