“Minhoca” caiu

Inimaginável que o amigo de faculdade tinha sido preso. E estavam todos numa festa, choppada, as “farras” típicas de anos de faculdades. Até hoje. Meninos e meninas entre 18 e 24 anos, comemorando a entrada de novos alunos. Minhoca não estava. Alexandre estava sendo brutalmente torturado até a morte.

Alexandre Vannucchi, estudante brilhante da Faculdade de Geologia da USP, primeiro lugar no vestibular, cursava o quarto ano quando foi preso acusado de participar da ALN, Ação Libertadora Nacional, um grupo dissidente do PCdoB, fundado por Carlos Marighella. O grupo apoiava a luta armada, ações que Alexandre não compactuava integralmente. Nos seus vinte anos, Minhoca tinha muitas dúvidas. Os estudantes se organizavam como podiam para combater censura,a repressão e a violência que a ditadura militar infringia. Na Geologia não foi diferente, Alexandre tinha ajudado a organizar o Conselho de Centros Acadêmicos da USP (CCA) como caminho para reorganizar o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP, o que era ilegal na época. Não deu tempo…pra ele.

Foi torturado até a morte. Ele tinha 22 anos. Dia 17 de março fará 50 anos que Alexandre agonizou sozinho até a morte numa cela do centro de tortura DOI-Codi, em São Paulo. A versão oficial na época dizia que ele tinha sido atropelado por um caminhão, numa tentativa suicida. Foi sepultado como indigente no Cemitério clandestino de Perus, também em São Paulo. A repressão não deu dignidade nem na hora da morte.

Mas os estudantes, professores, amigos, familiares deram toda a dignidade que Alexandre merecia. Com uma grande repercussão em toda a sociedade brasileira, representantes do CCA da USP se reuniram com Dom Paulo Evaristo Arns, recém cardeal, e propuseram um missa na Catedral da Sé como denúncia às torturas e mortes de Alexandre e outros naquele que foi considerada o primeiro ato público de massa contra a ditadura militar após o Ato Institucional no. 5, o famigerado AI-5.

E o sentimento de revolta contra o brutal assassinato do colega, somado à prisão de 44 alunos da USP, impulsionou o ressurgimento do movimento estudantil brasileiro.

Esse é apenas um resumo. Para todos esse fatos há testemunhas. E o Geração 68 vai contar tudo com depoimentos, documentos e imagens.

Ditadura Nunca Mais!
Democracia Sempre!

Cecilia Cavalcanti é jornalista e Doutora em comunicação e cultura. Colaboradora das Mídias Sociais do G68.


Respostas

  1. Avatar de Rosemary

    Importantíssimo relembrar, divulgar, apoiar essas ações em honra dos mártires e para que nunca mais aconteça. Obrigada
    Alexandre Vannucchi – Presente!

  2. Avatar de Gesner Andrade Nery

    Precisamos permanecer atentos. A cadela do fascismo sempre está no cio.
    “É preciso estar atento e forte”.

  3. Avatar de Maria Cristina Lage

    Em 1972 eu terminei a faculdade em Porto Alegre e vim para São Paulo onde meus pais estavam morando. Conhecia aqui apenas minha família por parte de mãe. As notícias trágicas apareciam através de rumores. Olha o fulano foi preso. VANNUCHI me pareceu um marco entre o submundo da tortura disfarçada e as notícias escancaradas que começaram aparecer aqui e ali na imprensa, principalmente a internacional.

  4. Avatar de Março António A.Meyer

    Vannuchi a LUTA CONTINUA!
    Não podemos abaixar a guarda.
    Os Boçais e a banda PODRE das Forças Armadas continuam conspirando.
    Temos de nos organizar e lutar…

  5. Avatar de Elizabeth Maria Costa de Oliveira

    Lindo relato, digno de todos os heróis que tombaram durante a ditadura civil-milirar

  6. Avatar de Gerson Tadeu Conti

    Estava no 1° ano da faculdade, foi um choque, não tínhamos ainda qualquer organização estudantil. Uma revolta depressiva.

  7. […] o honrávamos com o nome do Diretório Central dos Estudantes da USP. Quem conta a sua história na Geração 68 é Cecília Cavancalti, Doutora em comunicação e […]

  8. Avatar de crisrealramos

    Gratidão por esse relato 👏👏👏👏

  9. Avatar de MARIA TEREZINHA INFANTOSI VANNUCCHI

    Temos que honrar a verdade.
    Não permitir que a memória apague .

  10. Avatar de Fred Ghedini

    Muito bom, Cecília. Vamos contar essa história, tintim por tintim. Grande contribuição do G68 para que as novas gerações conheçam as brutalidades cometidas por gente que até hoje não foi devidamente julgada e condenada.

Deixe um comentário

Leia mais:

Descubra mais sobre Geração 68

Inscreva-se agora mesmo para continuar lendo e receber atualizações.

Continue lendo