Quais foram os maiores desafios no seu percurso na política?
Na política, a mulher sofre muito preconceito. Estamos num meio predominantemente de homens brancos, na maioria machistas. Tem apenas 91 anos que a mulher ganhou o direito ao voto. Mas que mulher era aquela? Branca, casada, estudada e “de posses”. Quanto tempo para elegermos mulheres para o legislativo ou executivo? Ainda hoje somos minoria. Vejam bem, a primeira senadora eleita no Brasil foi Eunice Michiles, em 1979. Mulher e preta, então…Eu, uma mulher preta, não sou acolhida ou sou considerada “ousada demais”, porque ouso mesmo questionar (risadas). Talvez o maior desafio para uma mulher na política seja ser respeitada como liderança. Fui sindicalista metalúrgica e nunca tive voz, por exemplo, nas decisões de diretoria ou mesmo para ocupar um assento na cadeia de decisão. Enfim, o preconceito vem de várias formas e de vários lugares, inclusive da própria esquerda, mas não deixo de encaminhar os projetos que considero fundamentais ou argumentar sobre os que tenho alguma dúvida de sua importância. Tenho 76 anos, mas com uma enorme vitalidade para a luta, principalmente pelos direitos das mulheres.
Qual a composição da Câmara de Vereadores de Guarulhos?
Somos 34 vereadores e apenas 7 mulheres, das quais três são conservadoras. Sou atualmente presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Cidadania, Habitação, Assistência Social e Igualdade Social. Mas não são todas as comissões que nós, vereadoras, podemos presidir ou até mesmo participar. Ha muitas comissões que já têm acordos entre o Legislativo e Executivo e aí, mulheres não entram. Mas estamos atentas para as demandas fundamentais, mesmo que Câmaras não possam aprovar nada que tenha gastos. Ou seja, há que haver ações em parceria entre executivo e legislativo para as politicas públicas. No caso de Guarulhos, por exemplo, não conseguimos aprovar ações contínuas na área de saúde pública da mulher, aprovamos apenas o Outubro Rosa.
Quais suas principais plataformas durante seu mandado?
Trabalhamos para garantir os direitos da mulheres, assegurando o cuidar da casa, da criança com seu trabalho. A abertura de creches nas empresas (e aí, nas que tenha maioria homens, por exemplo) e de lavanderias comunitárias. Além disso, me sinto uma “vereadora federal”, quero trazer os benefícios do Bolsa Família e do Minha Casa para a cidade. Ou seja, cultivar a parceria cidade-Estado
Como a Senhora avalia a situação da mulher nos dias de hoje?
Passamos por anos muito difíceis, um retrocesso nas políticas públicas pelos direitos cidadãos, principalmente no tocante à mulher. O ex-presidente, um misógino, tem como maior marca de seu mandato o estímulo à violência. Em todas as estatísticas, constatamos que a violência contra a mulher cresceu assustadoramente. Mas a posse do Lula nos dá esperanças, ainda mais com a criação dos Ministérios da Mulher, dos Povos Originários e da Igualdade Racial. Acredito na educação. É necessário mudar esse determinismo educacional das mulheres de dizerem “amém” e que “isso é o que Deus quer”. Há que pensar também como os homens estão sendo educados. Sair deste círculo vicioso do machismo estrutural e colocá-lo com coparticipe da estrutura familiar, de igualdade com as mulheres. Porque não tem creches, por exemplo, nos espaços de trabalho onde estão os homens? Enfim, é preciso empoderar a mulher como um sujeito livre para viver todas as suas possibilidades.
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Janete Pietá
Vereadora pelo PT na cidade de Guarulhos (SP), essa carioca que participou da passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro, levou sua militância para São Paulo, onde foi eleita a primeira deputada federal negra de São Paulo (PT – 2007-2015). Hoje, Janete está no seu segundo mandado de vereadora em Guarulhos e nos conta os desafios 7h30enfrentados por uma mulher na política. “Nasci no Estácio, berço do samba. Fui educada para pensar, para questionar”.

Janete Pietá na Marcha das Margaridas


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