A democracia está sob risco

Alexandre Santos

A caçada ao voto sempre abrigou  procedimentos, digamos, ‘pouco republicanos’.

Com efeito, procurando alcançar mandatos de representação para os quais tinham (e têm) pouco merecimento, as elites e os inescrupulosos lançam mão de expedientes de ética e legitimidade questionáveis para obter a vontade formal do eleitor.

Houve um tempo no qual espertalhões buscavam o poder politico principalmente através da compra de votos.

Naturalmente, uma grande parte das transações não envolvia dinheiro de forma aberta – muitos eleitores vendiam o voto por mimos como ‘milheiros de tijolos’, ‘carradas de areia’, etc. Havia até que vendesse o voto por coisas banais como uma dentadura ou um par de sandálias havaiana.

Evidentemente, no mercado eleitoral, havia também quem vendesse o voto por dinheiro vivo.

Nestes momentos entrava (e entra) em cena a figura do cabo eleitoral, uma espécie de corretor de votos, que costuma usar artifícios para mascarar a ilegalidade, como, por exemplo, a chamada boca-de-urna.

Vale dizer que, embora espúrio, do ponto de vista do eleitor ‘venal’, este sistema é o mais seguro e ‘honesto’, pois, lhe garante a pronta conclusão do negócio (o eleitor recebe o combinado de imediato e, como consequência sabe exatamente o valor e o porquê do voto dado a este ou a aquele candidato – uma situação concreta e que elimina a possibilidade do estelionato eleitoral implícita nas promessas nem sempre cumpridas).

O tempo passou e, agora, ainda mantendo em vigência as antigas práticas, o sistema usado pelos espertalhões vem sendo rapidamente aprimorado pelo avanço científico e tecnológico, incorporando modernas técnicas de comunicação e de manipulação baseadas na pós-verdade e nas fake news, inclusive, por aquelas [técnicas] orientadas pela Inteligência Artificial.

Considerado o quadro atual de modulação da opinião pública e manipulação da vontade do eleitor, o antigo sistema de ‘compra’ do voto parece brincadeira de crianças.

Muito provavelmente o sistema que, graças a doses científicas de pós verdades e de fake news, entra na cabeça das pessoas para colocá-las nas bolhas de desinformação onde têm o comportamento e a opinião completamente condicionados [este sistema] é muito mais perigoso e pernicioso do que qualquer outro já experimentado pelos manipuladores.

Na realidade, se a compra de votos e o regime de promessas vãs colocava o sistema eleitoral em dúvida, o emprego das modernas técnicas de condicionamento político coloca a própria Democracia em risco.

Se a sociedade não descobrir fórmulas capazes de conter os manipuladores e de proteger a sociedade da manipulação artificial da vontade do eleitor, pode chegar o dia no qual não mais valerá a pena lutar pela Democracia.


Alexandre Santos

Alexandre é engenheiro e escritor.

Preside o Clube de Engenharia de Pernambuco e a Associação Brasileira de Engenheiros Escritores, presidiu a União Brasileira de Escritores e faz a coordenação nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural.

Autor premiado com livros publicados no Brasil e no exterior, Alexandre é o editor geral do semanário cultural ‘A voz do escritor’ e diretor-geral do canal ‘Arte Agora’.

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