O sistema financeiro é corrupto

Francisco Celso Calmon

Acelerem os relógios, quem sabe o fim do ano chegue logo, para nos livrarmos de três autocratas bolsonaristas: Lira, Pacheco e Bob Neto.

O governo não é de centro-direita ou de centro-esquerda, porque não segue um programa único, pois não há. É um governo miscelânea. Pergunto: o que fizeram as equipes de transição? Não produziram um programa?

Não se trata de o Estado ser mínimo ou máximo, trata de ser democraticamente forte para dar direção e suporte para o desenvolvimento nacional.

Câmbio e juros devem estar sob parâmetros e planejamento estatal, não devem continuar sob o jogo do mercado.

A liberdade é para servir ao país e ao povo, e não para encher as burras dos rentistas, nacionais e estrangeiros e ao cadafalso do dólar.

Cercado por fora, minado por dentro, é difícil, mas não impossível governar.

Medir a força e a solidez de cada lado do cerco, medir a própria força, daí traçar cenários e táticas para romper ou flexibilizar o flanco menos sólido do cerco.

Lula não deve mais se desfigurar como fez negando a história dos 60 anos do golpe de 64 e constrangendo governo e adeptos do lulismo a não remoer o passado traumático do país.

Aos poucos vai jogando água fria na esquerda, desmobilizando, dividindo.

Como não somos pautados pelo governo, temos credibilidade histórica, organizamos e lançamos em sete capitais e alguns outros municípios o livro “60 anos do golpe: gerações em luta”, composto de 60 artigos de 60 autores, no dia 1º de abril.

Recentemente a sua postura quanto à greve dos professores e técnicos das Universidades federais foi inábil.

Alvíssaras quando declara: “Já passou da hora dos super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos”, afirmou. “É nesse contexto de combate às desigualdades que se insere a proposta de tributação internacional justa e progressiva que o Brasil defende no G20. (Lula).

A amplíssima aliança da governabilidade tem impedido Lula e o PT de cumprirem a pauta eleitoral, isto é, os compromissos assumidos com os eleitores.

O sistema financeiro é corrompido. BC, COPOM, Relatório Focus, todas estas peças estão prisioneiras pelo mercado, fraudam índices, fazem tudo que o ‘deus’ monetário mandar, e o resto é teatro de caricaturas de narrativas técnicas.

Muitas críticas, indignações e esbravejamentos políticos em relação ao Bob Neto, mandachuva do Banco Central, não foram suficientes para continuar com a redução dos juros, pelo contrário, o COPOM, mesmo com quatro indicados pelo presidente do país, foi unânime no congelamento dos juros no altíssimo patamar de ser o segundo maior juro real do planeta, só atrás do da Rússia.

O mercado já havia adiantado!  

O COPOM não precisa fazer reunião, basta saber a opinião do “mercado” e homologar.

Esse tal de mercado é onisciente, onipotente e onipresente em todas as esferas de poder, é o satanás da agiotagem e da intimidação.

Se o BC não baixar os juros, que os bancos estatais, e são muitos, abaixem os seus para o consumo e investimentos.

Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (Basa).

Em 2023, os bancos atingiram novo recorde com R$ 144 bilhões em lucros. Devem socializar em prol do desenvolvimento!

Se o BC é independente dos três poderes republicanos, não é oriundo da soberania popular, então, é um poder bastardo, espúrio e alheio ao sistema constitucional da organização estatal, é um corpo estranho, como uma célula cancerosa.

Sendo o BC é a expressão institucional do mercado financeiro, e como o mercado não tem cidadania, estamos diante de uma anomalia.

Qual a legitimidade do BC? Não serve a nenhum poder republicano e não é escolhido pelo voto. Não está, a rigor, sujeito a impedimento ou cassação.

A lei que instituiu sua autonomia foi um golpe aos poderes constitucionais.

A direita tomou o poder Legislativo, o mercado é o patrão do BC, e a autonomia do Banco é uma espinha na garganta de qualquer governo, notadamente pelo esdrúxulo calendário das substituições.

Por um lado, um Congresso da chantagem e da extorsão e o Banco Central um quinta-coluna do país. Por outro lado, o capital privado é covarde e incompetente. Gostam mesmo é que o Estado empreenda e depois privatiza a preços vis.

Se na reunião anterior do COPOM a esta última, os perdedores tivessem vencido, os juros estariam a menos 0.25, decorridos 45 dias e já não poderia mais manter a posição? Então os defensores da redução se arrependeram ou foram chantageados? É muito empirismo e incoerência!

O corporativismo não pode ser maior que o Brasil!

O temor do mercado é que sem o Bob Neto a economia cresça de tal forma que o Lula se torne imbatível.

A classe trabalhadora plenamente empregada, a classe média satisfeita, o BRICS mais empoderado na geopolítica mundial, porque, mesmo com o sabotador, o país está crescendo, passou à oitava economia mundial, e deve surpreender aos remadores do atraso com o PIB acima das expectativas do mercado. 

O que assusta as elites anacrônicas e a extrema-direita é que não tenha cenário trágico sobre o qual propor soluções radicais salvadoras.

Lula se escolher Gabriel Galípolo ou outro diretor atual para a presidência do Banco, assumirá inteiramente a responsabilidade.

Lula pode não ter escolhido o novo presidente para não permitir que o queimem, pode ser uma surpresa. Está traçando o perfil para selecionar.

Como galvanizar e mobilizar o povo sem um projeto para o país? Café, almoço e janta não são bandeiras que atinjam corações e mentes, param no estômago.

Depois das eleições municipais pode estar tarde para dar o cavalo de pau necessário no governo.

Quando a sociedade se sente atingida, sai da inércia e vai às ruas, como agora em resistência ao PL do estuprador.

Para isso é fundamental que façamos agitprop sobre o Lira e o Bob Neto, juros e o custo de vida, extorsão e corrupção.

Que as mulheres, uma vez mais saiam na frente nessa mobilização.

As ruas sempre foram nossas, lugar da extrema-direita é no esgoto.

Fora Lira, Fora Campos Neto.


Francisco Celso Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Foi líder estudantil no ES e Rio de Janeiro. Participou da resistência armada à ditadura militar, sendo sequestrado e torturado. Formado em análise de sistemas, advocacia e administração de empresas. Foi gestor de empresas pública, privada e estatal. Membro da Frente Brasil Popular. Autor dos livros “Sequestro moral e o PT com isso?” e “Combates pela Democracia”, coautor dos Livros “Resistência ao Golpe de 2016” e “Uma sentença anunciada – O Processo Lula”. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Articulista de jornais e livros, coordenador do canal Pororoca.


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