Tudo bem, somos contra, mas o que se está fazendo para impedir sua efetivação?
Cláudia de Arruda Campos
Reconheço que não domino suficientemente o assunto. O que me dá, então, licença para abrir o bico?
Como pessoa que viveu quase 70 anos no terreno da Educação, como estudante e militante de movimento estudantil; como professora e militante sindicalista na educação pública de São Paulo, me assusto com a rapidez com que segue a implantação das escolas cívico-militares no Estado. E cá estou, grudada na internet, caçando maiores informações, cheia de questões pra resolver.
O que pretendo, se me permitem, é dividir com vocês questões e solicitar ajuda. Qualquer informação é bem-vinda. Agradeço.
Sabemos que os assaltos da direita crescem em todo o país, para não me estender ao nível internacional. Em alguns estados, porém a coisa é acelerada.
São Paulo é uma vitrine especial. Aqui nos governa o mais cacifado pré candidato da direita à Presidência do país. Várias medidas de violência, privatização, militarização etc o sr. Tarcísio de Freitas vem tomando para “endireitar” São Paulo, um estado já cupinizado pelo conservadorismo.
O que me confrange no momento é o que se passa na Educação, campo em que seguem paralelas privatização (São Paulo, capital) e “cívico-militarização”, nas escolas estaduais.
Paraná, ao que me consta, segue parelho, mas lá não vejo ainda nenhum candidato forte a liderar a direita no país. De lá, porém, importamos uma pérola de Secretário de Educação.
Escolas cívico-militares: quem primeiro nos quis impingir esse abantesma foi o Bolsonaro, mas não teve habilidades, ou faltou-lhe tempo para concluir a obra. Tarcísio tem muito melhor formação ( nem precisa muito mais). Capaz de vender-se como direita moderada e ir matar dezenas no litoral paulista. Até deficiente visual entrou na lista de bandidos que reagiram à PM!
Tarcísio circula. Já esteve no governo Dilma antes que mostrasse quem é. Não foi não?
Esperto e acelerado já tem prontas, a esta altura, a lista das centenas de escolas em condições de se candidatarem ao modelo, com a indicação dos critérios a serem adotados: vulnerabilidade, número e origem social de alunos, existência – esta sobretudo assusta – de contra turnos.
Nos primeiros anúncios não se deixava claro o que os militares fariam nas escolas. Depois apareceu a possibilidade de ações apenas fora das salas de aula : funções administrativas (?!) manutenção da disciplina e prevenção de riscos; transmissão dos valores cívicos ( ! ). Que tanto mais farão nos contraturnos?
Sabemos, ainda, que os modelos não nasceram na era Bolsonaro. Para não recuar muito no tempo, fiquemos na primeira metade do séc. XX, com a Revolução Gentile, sob Mussolini e seus movimentos para cooptar a pequena burguesia; na Juventude Hitlerista, forjada em escolas destinadas a reforçar os Exércitos com número e dedicação fanática de integrantes, ou a preparar mão de obra barata, mas igualmente fanática, para trabalhar nas fábricas de armamentos.
Parecido, não? Como bibliografia basta ler o artigo de Luiz Alberto Melchart de Carvalho e Silva no jornal GCN¹.
Pois bem, eu me perguntava sobre medidas que estariam sendo tomadas para impedir a instalação de tais escolas. Achei sessões em Câmeras, não sessões para votação de algo, mas de exposições chamadas por interessados; vi notinhas sobre medidas jurídicas. Tudo vale, mas será que basta?
Não será o caso de ação/ações sobre a população abrangida pelas escolas potencialmente afetáveis? Não será o caso de tentar matéria nas mídias mais acessadas por essa população, que não lê os nossos sites, cards, faces…?
Quais meios de comunicação comunitários atendem a regiões da capital e do interior? Eles existem. Por que não levar a eles o problema?
Em tempo, no texto deixei de mencionar, mas não resisto. Achei que matéria tão séria não merecia menção a titicas, mas … desculpem, as experiências do nazi-fascismo não têm, pelo menos, este objetivo rasteiro: ficar na boa com os militares. Sabe como é, na reserva ganha-se menos, é chato ficar sem funções repressivas. Propiciemos lá um servicinho leve para eles continuarem a manter – remuneradamente – seus desejos de disciplina e hierarquia. Qual o valor da remuneração, não sei, mas sei quem vai pagar: a população com seus impostos.
Poderíamos ,com vantagens, pagar mais professores e equipamentos para as escolas.
Resta-me dizer que o tema não me toca apenas como professora que fui (diz que a gente fica nessa pra sempre). Vê-se aí uma ponta aguda a indicar planos do sr Tarcísio de Freitas. Várias medidas já lançou e recuou. Nessa não parece haver vislumbre de possível recuo. É um plano com reflexos em curto e médio prazo, um instrumento para formar, ou mudar mentalidades. Mais um pouco, a cada chacina haverá mais gente achando que a polícia (sinônimo de PM) tem razão; que é mesmo melhor privatizar todo e qualquer serviço etc, etc.
Claudia Arruda Campos
Kauê- Claudia de Arruda Campos.
Ingressou no magistério público em 1968.
Só não pode encarar o que hoje se chama Fundamental I.
De resto percorreu todos os níveis de ensino público, além algumas modalidades no ensino privado.
Participou, o que muito lhe honra, do movimento que, em 1978, expulsou os pelegos da APEOESP .
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