Análise Crítica de Preconceitos e Desinformação
Lígia Bacarin
A afirmação de que pessoas autistas são “frutos do demônio” é profundamente ofensiva e desinformada. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica amplamente reconhecida e estudada pela comunidade científica global. Este artigo tem como objetivo criticar essa visão, destacando a falta de base científica e as implicações sociais prejudiciais dessa crença, bem como o papel negativo de figuras religiosas na propagação de desinformação.
O autismo é uma condição neurológica que afeta a comunicação, comportamento e interação social (Baron-Cohen, 1995; Grandin, 2011). Estudos científicos, como os realizados por Simon Baron-Cohen e Temple Grandin, têm mostrado que o autismo é uma condição biológica com fundamentos genéticos e neurológicos claros. Não há evidências que sugiram qualquer conexão entre o autismo e conceitos religiosos ou demoníacos.
A visão de que o autismo tem uma origem sobrenatural ecoa práticas arcaicas de demonização e perseguição. Historicamente, mulheres foram frequentemente culpadas e demonizadas por condições que não eram compreendidas pela sociedade, sendo acusadas de bruxaria ou possessão demoníaca (Silberman, 2015). A culpabilização das mães, por condições como o autismo dos filhos, carrega essa carga misógina, perpetuando um ciclo de discriminação e culpa injusta contra as mulheres.
O impacto desse preconceito é devastador. Pessoas autistas já enfrentam inúmeros desafios, incluindo dificuldades na comunicação e na interação social. Acrescentar o peso do estigma e da discriminação agrava a exclusão social, o bullying e até mesmo a violência. Famílias de pessoas autistas também sofrem com o estigma, o que pode levar ao isolamento e à falta de apoio (Silberman, 2015).
É essencial criticar aqueles que usam a fé para propagar desinformação. A fé deve ser uma fonte de apoio e compaixão, não um instrumento de preconceito e exclusão. Líderes religiosos e figuras influentes que propagam essas ideias errôneas estão abusando de sua posição de confiança, perpetuando mitos prejudiciais que não têm base na realidade.
É crucial que a sociedade adote uma abordagem baseada no respeito, inclusão e compreensão. Educação e conscientização são ferramentas poderosas para combater a ignorância e o preconceito. Promover uma visão informada e compassiva sobre o autismo é essencial para criar um mundo onde todas as pessoas, independentemente de suas diferenças neurológicas, possam ser aceitas e valorizadas.
Além disso, a perpetuação de mitos que associam o autismo ao sobrenatural reforça estereótipos misóginos, culpabilizando injustamente as mães por condições fora de seu controle. Este tipo de discriminação é uma extensão das práticas históricas de demonização das mulheres, perpetuando a desigualdade de gênero. Abordagens inclusivas e informadas são essenciais para desmantelar esses preconceitos arraigados e promover a igualdade e o respeito em todas as esferas da sociedade.
Referências
Baron-Cohen, S. (1995). Mindblindness: An Essay on Autism and Theory of Mind. MIT Press.
Grandin, T. (2011). The Way I See It: A Personal Look at Autism & Asperger’s. Future Horizons.
Silberman, S. (2015). NeuroTribes: The Legacy of Autism and the Future of Neurodiversity. Avery.
Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin

Professora de História na rede pública de ensin, com mestrado em Fundamentos da educação e pós graduação em Educação Especial. Militante do Psol-PR e colaboradora nas mídias sociais da Geração 68.


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