Francisco Celso Calmon
A similitude é total. Assim como não houve ‘pedaladas fiscais’ que onerasse o erário, não houve procedimentos fora dos ritos processuais que comprometesse a formalidade e legalidade exigidas pelos princípios da Administração Pública.
A ousadia de articuladores do golpismo não tem limites, nem a lei os impede da obsessão de subverter o Estado democrático de direito.
O delinquente diz para as suas vítimas: fiquem tranquilos, mesmo não tendo sido condenado, eu não vou mais delinquir, e aí a tola da nação acredita, relaxa, enquanto preparam novos golpes.
“Se cometer exageros mesmo em nome do combate à ameaça antidemocrática já é condenável, eventuais abusos se tornam ainda mais perniciosos quando não há mais ameaça alguma.” (Editorial do Globo de 15 pp).
Editorial do jornal é a palavra oficial da família Marinho, historicamente comprometida com o golpismo, e nesse editorial evidencia, de forma insofismável, que, entre supostos exageros e abusos na defesa do Estado democrático de direito, o combate às ameaças à democracia deve ser contido, porque, na visão da GLOBO, não há mais ameaça alguma.
Os eventuais abusos e exageros na defesa da democracia são mais nocivos, segunda o Globo, do que os atentados à democracia.
Fazer o bem exageradamente é pior do que fazer o mal, pela ótica da Globo.
Vejam a capciosidade desse argumento falacioso. O que está em contenda é a democracia, qual o limite da legítima defesa do Estado democrático de direito?
Para a mídia golpista é a perda do objeto, para tanto, advoga uma premissa falsa: que não há mais ameaça alguma.
Assim como defendeu e participou da ditadura militar e admitia e contemporizava com os chamados “excessos” (sequestro, tortura, desaparecimentos), no presente, em nome de supostos exageros, quer impedir o prosseguimento do combate a quaisquer sinais de ameaças à democracia.
A falácia da acusação ao procedimento do Ministro Alexandre de Moraes pela empresa jornalística Folha de São Paulo é a própria ameaça.
A Folha tem digitais, assim como o falecido Delfin Neto, na repressão da ditatura à oposição que a enfrentou.
E se houvesse amparo nessa descabida acusação, estaria aberto o caminho do impeachment ao magistrado e a porteira da balbúrdia institucional aberta. O repúdio geral da maioria de juristas, do STF e de lideranças políticas impediram a fervura, mas as brasas ainda estão acesas.
Bolsonaro e sua camarilha há anos pregam e articulam o impedimento do Ministro, e agora surge o jornal, paladino do bolsonarismo, fazendo uma tempestade em cima do nada, vazia, como caluniosa foi a acusação de improbidade à ex-presidenta Dilma Rousseff.
No caso DO GOLPE DE 2016 a articulação foi com “STF e tudo mais”, desta vez, foi uma porralouquice, porém, é um grave sinal de que o golpismo não cessou e nem cessaráenquanto não houver por completo a justiça de transição.
8 de janeiro não acabou e não dá sinais de rendição, porquanto o mentor maior e seus asseclas não foram punidos ainda.
A leniência com golpistas é fermento a estratégias de novas tentativas de minar o Estado democrático de direito.
O golpismo é um processo crônico, é necessário que haja um movimento antigolpismo também permanente. Criar uma ONG encarregada de prospectar sinais, denunciar e desarmar esses movimentos é uma necessidade imperiosa.
Por fim e por mister: não estou a defender o ministro, surgido pela caneta do traidor Michael Timer, nem simpatizo com o seu monocratismo autocrata, estou, sim, a mostrar a similitude entre as ‘pedalas’ e o ‘fora dos ritos’, que sirva de alerta e vigilância para desarmar em tempo hábil qualquer viés que possa aumentar a instabilidade democrática.
O advento do bolsonarismo produziu a desarmonia belicosa entre os poderes republicanos, e essas cizânias institucionais formam caldo de cultura para a extrema-direita.
Francisco Celso Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Foi líder estudantil no ES e Rio de Janeiro. Participou da resistência armada à ditadura militar, sendo sequestrado e torturado. Formado em análise de sistemas, advocacia e administração de empresas. Foi gestor de empresas pública, privada e estatal. Membro da Frente Brasil Popular. Autor dos livros “Sequestro moral e o PT com isso?” e “Combates pela Democracia”, coautor dos Livros “Resistência ao Golpe de 2016” e “Uma sentença anunciada – O Processo Lula”. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Articulista de jornais e livros, coordenador do canal Pororoca.


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