Uma Análise dos Conflitos e de suas Consequências
Lígia Bacarin
A recente escalada de violência no Oriente Médio, evidenciada pelos ataques israelenses ao Líbano, trouxe à tona os impactos cruéis da ocupação prolongada e das políticas expansionistas de Israel. Entre as vítimas inocentes, uma história em especial chamou a atenção: Fatima Bassam Abbas, uma bebê brasileira que ensaiava seus primeiros passos, foi morta ao ser atingida por estilhaços de um míssil que destruiu parte de Beirute no último dia 2 de novembro. A terceira vítima brasileira do conflito simboliza o alto custo humano e a persistência de uma ocupação que, além de devastar vidas, perpetua uma série de desigualdades e tensões que afetam profundamente a paz e a estabilidade na região. Além da bebê Fátima, foram vítimas de bombardeios os adolescentes Mirna Raef Nasser, de 16 anos, e Ali Kamal Abdallah, de 15 anos. Inclusive, a família de Fátima Abbas, essa bebê que morreu, já estava inscrita na Operação Raízes do Cedro para deixar o Líbano.
1. Histórico da Expansão e da Ocupação Sionista
Desde a fundação de Israel em 1948, a ocupação de territórios e a repressão das populações palestinas e libanesas têm sido justificadas por uma retórica de segurança nacional. Sob o pretexto de garantir sua sobrevivência, Israel implementou uma série de medidas que, na prática, significaram a apropriação de terras e recursos, em detrimento dos direitos básicos das populações locais. Esses atos de violência institucionalizada e a postura imperialista no Oriente Médio consolidaram o que muitos estudiosos chamam de projeto sionista expansionista.
O sionismo em sua forma política, longe de ser um movimento de sobrevivência ou de paz, pode ser visto como uma ideologia de conquista e de domínio. Tal abordagem se reflete em ações contínuas que incluem a ocupação da Cisjordânia, os bombardeios a Gaza, os ataques a civis no Líbano, e a manutenção de assentamentos ilegais. Como bem apontam autores como Edward Said e Ilan Pappé, esses atos não se limitam a incidentes isolados, mas fazem parte de uma política deliberada de segregação e repressão.
2. Impactos Socioeconômicos e a Resistência Internacional
Os ataques ao Líbano e a ocupação dos territórios palestinos possuem graves consequências sociais e econômicas. Para as populações locais, a ocupação implica não apenas em perdas humanas, mas também na devastação de suas infraestruturas e na deterioração de suas condições de vida. Barreiras, checkpoints, e bloqueios contínuos afetam a economia regional e levam à pauperização e ao isolamento dos territórios ocupados. Em Gaza, por exemplo, o bloqueio imposto por Israel há mais de uma década causou um colapso econômico, aumentando a taxa de desemprego e restringindo o acesso a serviços básicos de saúde, educação e água potável.
O bloqueio econômico a Israel tem sido considerado, por alguns setores, uma resposta legítima às práticas violentas e repressoras contra os povos do Oriente Médio. Argumentos como os de Naomi Klein e Judith Butler destacam que o boicote é uma forma de resistir ao apoio internacional que Israel recebe em detrimento dos direitos das populações oprimidas. O boicote se fundamenta no princípio de que o apoio econômico a Israel implica na manutenção e no financiamento de sua ocupação.
3. Perspectiva Internacional e Necessidade de Pressão Global
A comunidade internacional, por sua vez, tem sido amplamente dividida sobre a questão palestina. Enquanto alguns países ocidentais continuam a apoiar incondicionalmente Israel, as vozes de resistência ganham força, e o apelo pelo boicote cresce. A proposta de sanções e bloqueios econômicos visa pressionar Israel a interromper suas práticas expansionistas e adotar uma postura mais justa e humanitária.
O bloqueio econômico é visto como uma resposta estratégica e pacífica para impor limites à ocupação israelense. Conforme argumenta Noam Chomsky, apenas com uma pressão internacional significativa será possível interromper o ciclo de violência e injustiça promovido pelo projeto sionista expansionista. Sanções econômicas, restrições comerciais e cortes no financiamento militar são algumas das formas de pressionar Israel a respeitar as resoluções internacionais e os direitos humanos dos palestinos.
4. O Impacto do Conflito no Líbano e a Fragilidade das Resoluções
O Líbano, país vizinho que abriga grande número de refugiados palestinos e sofre constantemente com a pressão israelense, tem sido palco de sucessivas ofensivas. As operações militares de Israel afetam diretamente a população civil, como demonstrado pelo caso trágico de Fatima Bassam Abbas e sua família, vítimas de um ataque indiscriminado que vitimou inocentes. Esses ataques refletem a fragilidade das resoluções internacionais e a falta de responsabilização de Israel perante a ONU.
Analistas como o libanês Fawwaz Traboulsi sugerem que a estratégia de Israel é, em parte, uma tática para enfraquecer países vizinhos e inibir a resistência aos seus interesses territoriais. Ao transformar o Líbano e a Palestina em zonas de conflito constante, Israel busca legitimar sua presença e reprimir qualquer oposição local, deixando a região em um estado de instabilidade contínua.
5. O Caminho para a Paz: Uma Alternativa para o Oriente Médio
Para que a paz seja viável, é essencial que a ocupação israelense seja desfeita e que seja instituído um compromisso de respeito aos direitos humanos e à autodeterminação dos povos. O fortalecimento de movimentos de resistência e o apoio ao boicote econômico a Israel são formas de pressionar o país a adotar práticas mais humanitárias e menos expansionistas. Como já expressaram autores como Angela Davis e Judith Butler, a solidariedade internacional é crucial para combater o apartheid institucionalizado de Israel e para construir uma paz duradoura.
Em última análise, a resistência à ocupação e ao sionismo expansionista não se trata de uma oposição ao povo israelense, mas sim a uma política de Estado que fere diretamente os princípios de autodeterminação, equidade e respeito aos direitos humanos. Um boicote econômico representa um apelo global por justiça, e busca responsabilizar Israel pelas suas ações. Ao adotar essa postura, a comunidade internacional pode pavimentar um caminho para a construção de uma paz real e duradoura no Oriente Médio, onde libaneses, palestinos e israelenses possam coexistir em um ambiente de respeito e segurança mútua.
Referências
Butler, Judith. Parting Ways: Jewishness and the Critique of Zionism. New York: Columbia University Press, 2012.
Chomsky, Noam. Fateful Triangle: The United States, Israel, and the Palestinians. Cambridge, MA: South End Press, 1983.
Davis, Angela. Freedom Is a Constant Struggle: Ferguson, Palestine, and the Foundations of a Movement. Chicago: Haymarket Books, 2016.
Naomi. This Changes Everything: Capitalism vs. The Climate. New York: Simon & Schuster, 2014.
Pappé, Ilan. The Ethnic Cleansing of Palestine. Oxford: Oneworld Publications, 2006.
Said, Edward. Orientalism. New York: Pantheon Books, 1978.
Traboulsi, Fawwaz. A History of Modern Lebanon. London: Pluto Press, 2007.
Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin

Professora de História na rede pública de ensino. Com mestrado em Fundamentos da educação e pós graduação em Educação Especial. Militante do Psol-PR e colaboradora nas mídias sociais da Geração 68.


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