O deslocado

Francisco Celso Calmon

Múcio, fala quando não deve, e silencia quando deve falar.

Todo o governo deveria ter se manifestado em relação ao indiciamento do Bolsonaro pela PF, especialmente o ministro da defesa, sobretudo por se tratar do envolvimento dos militares e por ter sido o responsável por indicar ao presidente o uso da GLO. Era a peça que faltava no xadrez golpista para a concretização do golpe em 8/1/23.

Dos 37 indiciados, 25 são militares!

Múcio está sempre disposto a defender os interesses corporativos dos militares, se mete em decisões de política externa, passa pano na responsabilidade das FFAA quanto ao seu passado golpista, e da instituição do estado terrorista com o Ato institucional número 5 – AI5, que no próximo dia 13 de dezembro fará 56 anos de trágica memória.

A reação ao plano terrorista golpista está acanhada, nem parece que, além de assassinatos, previa a instituição de um governo autocrata, com um gabinete de militares com poderes excepcionais.

Se colocado em prática E VITORIOSO, adeus democracia. Adeus estado de direito. E adeus aos 30 mil esquerdistas, que Bolsonaro, o terrorista, sempre prometeu matar. 

Como a ditadura não me matou, sinto que nós sobreviventes estamos sempre sob crime de ameaça do terrorista-mor. 

Partidos calados, movimentos sociais titubeando, estudantes assistindo a banda passar, que droga é essa que provocou essa letargia?

Assisto a dois espadachins nessa refrega de vida ou golpe à democracia: a presidenta do PT, Gleisi Hoffman, e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo.

A conjuntura está desmoralizando uns e valorizando outros; a trama golpista enseja peremptoriamente romper com o véu da hipocrisia e da vestal daqueles que são perante as páginas da história os seculares golpistas da República brasileira.

A justiça de transição, que não correu como deveria, está latente, e sem a qual os fantasmas do passado permanecerão a assombrar a democracia dos vivos.

Enquanto os despudorados do Congresso continuam a articular a anistia de terroristas golpistas, os democratas de todos os matizes estão sem verve na defesa da democracia, como teve o Deputado Rubens Paiva, o Marcio Moreira Alvez e tantos outros.  

Nesta hora não pode haver falta de coragem.

Como parte da geração que enfrentou o golpe de 64 e a ditadura militar, mesmo em desvantagens de forças, mas, superior em coragem e determinação, chamamos ao dever os parlamentares e governadores democratas para montar uma frente de defesa do Estado democrático de direito.

Temos duas frentes de luta: contra a anistia no Congresso e pela denúncia da PGR ainda este ano e a decretação da prisão preventiva do Bolsonaro e quadrilha. 

Lula, para além de estar agradecido por estar vivo, tem a urgente tarefa de reformar o seu ministério.

Afinal, a conspiração não foi extirpada do tecido civil-militar, os “kids pretos” são provas vivas.


Francisco Celso Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Foi líder estudantil no ES e Rio de Janeiro. Participou da resistência armada à ditadura militar, sendo sequestrado e torturado. Formado em análise de sistemas, advocacia e administração de empresas. Foi gestor de empresas pública, privada e estatal. Membro da Frente Brasil Popular. Autor dos livros “Sequestro moral e o PT com isso?” e “Combates pela Democracia”, coautor dos Livros “Resistência ao Golpe de 2016” e “Uma sentença anunciada – O Processo Lula”. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Articulista de jornais e livros, coordenador do canal Pororoca.



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