Sobre a prisão de Bolsonaro

Liszt Vieira

O inquérito da Polícia Federal sobre a insurreição de 8/1/2023 já reuniu provas suficientes para que o STF decrete a prisão preventiva de Bolsonaro. No entanto, o Ministro Alexandre de Moraes preferiu não decretar a prisão preventiva. Ao que consta, ele preferiu esperar a apresentação de provas irrefutáveis e esmagadoras para impedir ou pelo menos contrabalançar eventuais manifestações de rua dos bolsonaristas em apoio de seu líder.

Se isso for mesmo verdade, temos pela frente um problema. É que o tempo corre a favor de Bolsonaro e contra todos nós. Ninguém sabe bem o que Trump vai fazer. Tudo é possível, mas não podemos ignorar os cenários mais pessimistas.

Preocupado com a Guerra da Ucrânia, que prometeu acabar, e com a guerra de Israel no Oriente Médio, que prometeu apoiar ainda mais, Trump pode ignorar o Brasil e a América Latina durante um bom tempo. Mas pode também, desde logo, apoiar tentativas de golpe militar na região. Isso é apenas uma hipótese, mas uma hipótese que não pode ser abandonada a priori.

Todos sabemos que o golpe militar no Brasil estava preparado e só não foi consumado porque o Alto Comando não apoiou. E não apoiou principalmente porque o presidente Biden enviou diversos diplomatas ao Brasil para dar recado aos militares: Nada de golpe! Ele não tinha interesse em ver como ditador do Brasil um aliado de Trump, seu adversário.

Assim, se o novo governo americano decidir apoiar as tentativas de golpe na América Latina – o que não seria nenhuma novidade – pode também ameaçar o Brasil se Bolsonaro vier a ser preso. Há quem diga que isso é improvável. Admito. Improvável, mas não impossível. Trump é imprevisível.

Assim, quanto antes Bolsonaro vier a ser preso, melhor. Sua prisão contribuirá para inibir eventuais tentativas futuras de golpe militar, uma espada de Dâmocles sempre pendente sobre a democracia no Brasil.

Como disse acima, o tempo corre contra nós.


Liszt Vieira 

Formado em Direito, com Doutorado em Sociologia. Foi exilado nos anos 70, deputado pelo PT no RJ nos anos 80, Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio-92. Foi Professor da PUC-Rio e Presidente do Jardim Botânico do RJ de 2003 a 2013. Atualmente é membro do Conselho da Associação Terrazul e um dos Coordenadores do Fórum 21.



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