Militar não é polícia. No Brasil é…

​- O tabloide britânico The Sun chamou a Polícia Militar de São Paulo de “força policial mais perigosa do mundo”​…

​O que a matéria não considera, assim como a maioria das pessoas no Brasil, mesmo as da esquerda, é que as forças ditas policiais no Brasil não são policiais estrito senso, como na Inglaterra, por exemplo. Polícia de verdade é um braço do sistema judiciário, existe para agir de forma preventiva usando métodos científicos, especialmente quando nas investigações dos crimes. Mesmo depois de um crime consumado, cabe a polícia, durante as investigações e coleta de provas, prender os suspeitos para que a justiça julgue.

O uso das armas é para defesa do policial e/ou das pessoas em caso de ataque. Preferencialmente, o policial procura não matar, quando num confronto, e sim ferir para que o suspeito seja preso. Além disso, a corporação policial verdadeira está sob fiscalização e controle da sociedade civil e do próprio judiciário. Os policiais respondem judicialmente por tudo que fazem, especialmente quando há morte durante o processo. Sinteticamente, é o que acontece em quase todos países minimamente democráticos no planeta.

No caso brasileiro, nada disso acontece. As várias corporações ditas policiais, na verdade, são militares ou militarizadas. Não são polícias, visto que suas origens são das forças armadas, especialmente do exército. As PM (Prontos pra Matar) espalhadas pelos estados da federação, são corporações militares, sob controle do exército e não dos governadores, respondem judicialmente aos tribunais militares, atuam sob uma lógica estritamente militar fantasiada de polícia.

Os soldados profissionais não são policiais. Assim como não são negros, brancos, pardos, indígenas ou orientais. São apenas soldados profissionais. São adestrados para o combate, para a guerra, a partir do uso intensivo das armas, visto que parte da população do país é encarada como inimiga interna.

Obedecem a uma hierarquia militar onde o cumprimento das ordens, não importa qual, é fundamental. No adestramento que recebem, os soldados são destituídos de qualquer humanidade que tenham. Recebem uma profunda lavagem cerebral para atuarem de forma violenta, cruel e movida pelo ódio contra os civis, especialmente os mais pobres.

As violências costumeiras, as chacinas de sempre, além de serem estimuladas e protegidas, dando aos soldados impunidade quase que total, não são casos isolados ou de despreparo. Ao contrário, são ações de guerra onde tudo pode acontecer e é permitido. Ao inimigo a morte, esse é o lema de qualquer corporação militar pelo planeta. Por isso o uso intensivo das armas em todas as operações.

O alto índice de suicídio nas corporações militares pelo mundo, incluindo nas PM pelo país, deve-se a essa prepração e adestramento para a violência cruel e letal com as pessoas. Os que não aguentam essa vivência e crueldade constantes, acabam se matando ou saem das corporações. O preço para se tornar um assassino em série de uniforme é alto e nem todos aguentam.

Mesmo a polícia Civil é militarizada e atua sob a mesma ótica de violência e crueldade letal. As GCM atualmente são como um”puxadinho” das PM, passando a atuar da mesma forma. O que se tem no país, desde as capitanias hereditárias até hoje, são capitães do mato/jagunços de uniformes com o mesmo objetivo: caçar os escravos de sempre nas senzalas modernas (favelas, comunidade, periferias), assim como a população indígena, quilombolas, ribeirinhos, gente em situação de rua, pobres, miseráveis, militante e ativistas políticos e dos direitos humanos etc., quem o Estado considera como inimigo a ser destruído. Na prática, pouca coisa mudou no Brasil em mais de 500 anos no quesito segurança pública que nunca existiu de fato, na verdade, foi e continua sendo uma segurança privada.

Quando na ditadura de 64, por volta dos anos 1967 e 1968, foram criadas as PM e a Polícia Civil a partir das Guarda Civil e Força Pública, a intenção era tornar essas novas corporações fantasiadas de polícia, forças de combate às guerrilhas urbanas e rurais que estavam pipocando no país. Não eram e nunca foram forças policiais, levaram o nome de polícia para se tornarem mais palatáveis e aceitos pela sociedade civil.

Os conceitos de polícia e de militar são díspares, antagônicos, não se misturam e nem se completam. É um hibridismo brasileiro construído para reprimir a sociedade sob uma aparência policial, mas totalmente militar. Quem não compreende essa realidade continuará cometendo o mesmo erro e aceitando a manipulação ideológica e política da direita, usando inclusive os mesmo métodos repressivos contra as classes mais precarizadas. Tanto assim, que as esquerda continuam repetindo as propostas da direita de aumentar efetivos, equipamentos, armamentos e a repressão como se isso resultasse em alguma mudança ou segurança nas pessoas…

Basta visualizar como a sociedade brasileira está repleta de aparatos repressivos institucionais de todos os tipos e formas. Além das PM, da Civil, das GCM, existem também a Força Nacional, as polícias rodoviárias estaduais e federal, a Polícia Federal (talvez a única força policial verdadeira, mas dependendo de quem governa o país, pode se tornar também uma força apenas repressiva) e as forças armadas que historicamente sempre atuaram de forma repressiva, controladora e de ocupação do territória nacional.

O objetivo dos aparatos repressivos do Estado brasileiro, sempre foram para o controle máximo das pessoas, especialmente das classe sociais e grupos étnicos apontados. As chacinas, torturas, desaparecimento de corpos nunca acabaram, só aumentaram, assim como a impunidade dos assassinos de uniformes. E não acabarão…


Carlos Eduardo Pestana Magalhães (Gato)

Jornalista, sociólogo, membro da Comissão Justiça paz de São Paulo, do Grupo Tortura Nunca Mais e da Geração 68 Sempre na Luta…


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