Homenagem a Rubens Paiva: legado de justiça e coragem

José Manoel Ferreira Gonçalves*

Senhoras e senhores,

É com profunda emoção e gratidão que estamos aqui reunidos hoje, na Comissão Regional Justiça e Paz, um organismo da Igreja Católica que promove a justiça social e a defesa dos direitos humanos, com foco na conscientização ética e cidadã, na defesa dos direitos humanos e na mediação de conflitos, para homenagear a vida, a coragem e o legado de Rubens Paiva.

Rubens Paiva não foi apenas um homem comum; foi um exemplo luminoso de compromisso com a justiça e a democracia. Nascido em Santos, em dezembro de 1929, desde cedo demonstrou uma dedicação incansável às causas sociais. Sua trajetória estudantil foi marcada pela coragem e pela resistência, características que o acompanharam por toda sua vida pública. Rubens Paiva iniciou sua trajetória política no movimento estudantil, destacando-se como líder na Universidade Mackenzie, onde cursou engenharia, sendo presidente do Centro Acadêmico Horácio Lane e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, culminando em sua eleição como deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro em 1962.

Mas sua luta não passou despercebida pelos olhos autoritários. Com o golpe militar de 1964, Rubens Paiva teve seu mandato injustamente cassado e foi obrigado ao exílio. Contudo, sua voz jamais se calou, mesmo enquanto estava distante. Retornou ao Brasil e continuou a atuar corajosamente, apoiando a resistência democrática e auxiliando aqueles perseguidos pela opressão.

Em 20 de janeiro de 1971, a violência do regime militar o alcançou de forma cruel e desumana. Preso em sua própria casa, diante dos olhos de sua esposa, Eunice Paiva, e de sua filha, Eliana, Rubens Paiva foi levado para um destino sombrio, onde sofreu as mais terríveis torturas, resultando em seu assassinato. Seu corpo jamais foi encontrado, tornando-se símbolo doloroso e poderoso da resistência ao autoritarismo e da luta incansável pela verdade e justiça.

Hoje, ao evocarmos a memória de Rubens Paiva, somos convocados a refletir sobre os perigos da intolerância, do autoritarismo e do silêncio. Somos chamados a recordar a coragem daqueles que, como Rubens, enfrentaram a brutalidade com dignidade e amor pela liberdade.

Que o exemplo de Rubens Paiva, amplificado pelas vozes proféticas de Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Helder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida, continue vivo em nossas consciências e corações. Que seu sacrifício jamais seja esquecido, e que sua história seja sempre lembrada como um alerta constante contra o retorno da tirania.

Em 2024, a arte se encarregou de levar sua história ao mundo através do filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles. Essa obra, baseada no relato emocionado de seu filho, Marcelo Rubens Paiva, nos recorda que, apesar de toda violência e obscuridade, a voz daqueles que lutam por justiça jamais poderá ser silenciada.

Agradecemos profundamente por este espaço de acolhida, reflexão e memória, e rogamos aos céus para que nunca mais nossa nação conheça tempos tão sombrios.

Muito obrigado.

* Discurso proferido pelo autor em 24/03/2025 em reunião na Comissão de Justiça e Paz de São Paulo


José Manoel Ferreira Gonçalves

Presidente da ONG Frente Nacional Pela Volta das Ferrovias (FerroFrente), entidade que há mais de 10 anos defende a ampliação da malha ferroviária para o transporte de cargas e os trens de passageiros no Brasil. Pós Doutorado em Transportes e Meio Ambiente (Universidade de Lisboa), doutorado em Engenharia de Produção e Mestrado em Engenharia Mecânica, entre outros títulos. É autor de várias obras sobre o setor ferroviário, como Histórias das Ferrovias do Brasil: Ferrovias Paulistas (2018), Despoluindo Sobre Trilhos: Transformação Modal no Transporte de Cargas (2013) e Madeira-Mamoré: História das Ferrovias do Brasil (2017).



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