Lígia Bacarin
A cena foi emblemática: a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) deixou a Comissão de Infraestrutura do Senado após ser alvo de ataques misóginos por parte de senadores bolsonaristas. Marcos Rogério (PL-RO) ordenou que ela “se colocasse em seu lugar”, enquanto Plínio Valério (PSDB-AM) afirmou que ela merecia respeito “como mulher”, mas não como ministra. O episódio, porém, vai muito além do desrespeito individual: é uma estratégia articulada pela extrema-direita para deslegitimar vozes que ameaçam seus interesses.
Misoginia como Tática Política:
Teóricas feministas como Silvia Federici (“Calibã e a Bruxa”) e Angela Davis (“Mulheres, Raça e Classe”) demonstram como a violência de gênero em espaços de poder não é acidental, mas sim uma ferramenta para manter hierarquias. No caso de Marina — mulher negra, nordestina e defensora histórica da Amazônia —, os ataques combinam machismo, racismo e aversão a políticas ambientais.
Os senadores agressores não são meros “despreparados”: são representantes de um projeto que beneficia economias predatórias. Marcos Rogério, por exemplo, votou a favor do PL 2633/2020 (conhecido como “PL da Grilagem”), que regulariza terras invadidas na Amazônia, e contra a demarcação de terras indígenas (PL 490/2007). Plínio Valério, por sua vez, apoiou a flexibilização do licenciamento ambiental(PL 3729/2004), medida que favorece grandes empreendimentos destruidores de biomas.
O Bolsonarismo e o Ataque às Instituições:
Esses parlamentares não agem sozinhos: são parte de uma bancada financiada por ruralistas, mineradoras e madeireiras, setores que lucram com o desmonte ambiental. Seus discursos misóginos seguem o mesmo roteiro do bolsonarismo: desqualificar adversários através de ódio identitário, enquanto aprovam leis que ampliam desigualdades.
Aqui, a teoria de Pierre Bourdieu(“A Dominação Masculina”) é útil: a violência simbólica naturaliza a exclusão de mulheres do poder, especialmente quando elas desafiam elites. Marina, ao defender a moratória do garimpo em terras indígenas ou a redução do desmatamento, tornou-se inimiga direta desses grupos.
O Governo Precisa Agir — e a Sociedade Também:
O silêncio do Planalto diante dos ataques é inaceitável. Se o governo Lula se diz comprometido com pautas progressistas, precisa defender publicamente sua ministra e exigir punição aos agressores. A omissão só fortalece a narrativa da extrema-direita de que mulheres não pertencem a espaços decisórios.
A sociedade civil, por sua vez, deve pressionar. Coletivos feministas, movimentos negros e ambientais já mostraram solidariedade a Marina, mas é preciso ir além:
- Exigir que partidos punam seus parlamentares por assédio político;
- Vincular os ataques a Marina aos votos antiambientais desses senadores (como fiz aqui);
- Cobrar da mídia que não trate o caso como “mera polêmica”, mas como um ataque à democracia.
Conclusão:
Resistir é Preciso!
A luta de Marina Silva é simbólica e concreta. Enquanto a extrema-direita usa o machismo para proteger privilégios, o que está em jogo é o futuro da Amazônia, dos direitos das mulheres e da própria democracia.
Referências para aprofundamento:
- Federici, S. (2004). Calibã e a Bruxa.
- Davis, A. (2016). Mulheres, Raça e Classe.
- Bourdieu, P. (1999). A Dominação Masculina.
Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin

Professora de História na rede pública de ensino. Com mestrado em Fundamentos da educação, pós-graduação em Educação Especial e doutorado em Fundamentos da Educação. Militante do Psol-PR e colaboradora nas mídias sociais da Geração 68.


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