Nota de repúdio à homenagem de General Girão ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra

Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Norte

O Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Norte vem a público repudiar, com veemência, a homenagem prestada pelo deputado federal General Girão (PL-RN) ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar reconhecido oficialmente pela Justiça brasileira como torturador. A exaltação a um notório violador de direitos humanos representa uma afronta inaceitável à democracia, à dignidade das vítimas da ditadura civil-militar e ao esforço coletivo de reconstrução da verdade histórica em nosso país.

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi chefe do DOI-CODI de São Paulo, um dos mais brutais centros de repressão do regime ditatorial, e responsável direto por sequestros, torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados, como reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade e por decisões judiciais. Ao reverenciar sua memória como a de um “herói nacional”, o deputado ignora deliberadamente o sofrimento de milhares de brasileiros e brasileiras que foram perseguidos, presos ilegalmente e torturados por lutar por liberdade, justiça social e democracia.

Trata-se de um ato inadmissível de revisionismo histórico, que busca normalizar o terrorismo de Estado praticado durante os anos de chumbo e, pior ainda, justificar novos ataques à ordem democrática sob o falso pretexto de patriotismo.

Não se trata de um gesto isolado. A homenagem ocorre no contexto de uma campanha articulada por setores bolsonaristas que relativizam os crimes da ditadura e buscam reescrever a história para encobrir suas práticas autoritárias e golpistas — as mesmas que culminaram nos ataques de 8 de janeiro de 2023, dos quais o próprio General Girão é investigado como incentivador.

O Comitê reafirma seu compromisso inegociável com a democracia, com a justiça de transição e com o direito à memória e à verdade. Relembrar os crimes da ditadura e honrar a luta de quem resistiu a ela não é revanchismo. É um dever civilizatório.

Exaltamos os verdadeiros heróis e heroínas do povo brasileiro: os que tombaram na luta por um Brasil mais justo, livre e democrático. E seguiremos vigilantes para que nenhuma homenagem a torturadores passe impune pela história.


Natal (RN), 30 de julho de 2025.
Comitê Estadual de Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Norte



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