Incursão no quaternário poético: Poemas de Affonso Abreu e outros Escritos

Affonso Abreu

Illic, illic, subito!
Logo ali, acolá, de repente!

Logo ali,
acolá,
de repente!
Noutra esquina
a banda passa,
um cavalo empina,
ressoam os clarins!
Amigos dão-se as mãos,
recitam versos,
solfejam canções,
cantarolam sílabas,
todos os irmãos.
Crianças lindas,
olhares ternos,
unidas em fusão,
corações abertos,
almas limpas,
singelas e belas,
extasiante ilusão,
caminham sorrindo,
brincando, pulando,
indo e vindo,
livres, leves, soltos,
jardim em flor.
Terra sonhada.
Terra esperada.
Terra indomada.
Renúncias
Devaneios.
Utopias.
Quimeras.
Muita dor.
Muito amor.
Muito sol.
Muito mar.
Muita saudade.
Seguir em frente.
Eterno de repente.
Liberdade!


Dedicado à lembrança de tantos irmãos que viveram e morreram por seus sonhos e convicções!



Interiorem Puer diem

Dia da criança interior

Há uma criança em mim,
que ainda corre descalça.
Curiosa, que faz perguntas.
Docemente espera respostas.
Que se encanta com o existir,
com um pôr do sol distraído,
com o cheiro de chuva no asfalto.
Que às vezes se esconde arredio
e se faz de perdido.
Que não quer me levar ao passado,
mas apenas me lembrar que crescer,
não é esquecer a magia infantil.
Que só quer que eu viva sem medo,
coração aberto, doce e confiante.
Que ser criança não é ter poucos anos,
mas é ter muitos sonhos e atinar
que o impossível está logo ali.
Uma criança que abandono sozinha,
sendo adulto, forte, inclemente,
sem saber o caminho de casa.
Oh, linda criança, não me abandone.
Danse, quando ninguém está olhando.
Chora sem vergonha se a dor é demais.
Ria sem ter motivos, sonhe sem ter medo.
Quero sempre te ouvir mais e mais.
Dar-te a mão nos dias nublados.
E deixar que você pinte o mundo,
com as cores da alegria.
Crescer sem você, não faz sentido.
Pouco importa o que venha e
muito menos o ter sido.
Quero você bem no meu peito,
onde o coração é eterno.


Dia da Criança:
Homenagem à todas as crianças do mundo!



“Sperare est tacite orare.”

Esperançar é orar silente.
É dizer ao tempo:
não me leve por inteiro,
deixe-me ouvir o som do talvez.

Há flores que só abrem
quando ninguém as apressa.
Há almas que só respiram
no suave compasso dos sonhos.

Esperançar é aceitar
que o destino não tem relógio e
que a beleza se revela,
no eterno caminhar.

E assim, eu fico:
entre o passo e o sopro,
entre o quase e o sempre,
onde a vida, por fim,
se deixa tocar.



Susurri, oscula et passio.
Sussurros, beijos e paixão

Sussurros nascem, leves, entre flores,
têm cheiro antigo, alma de luar;
nos lábios, o silêncio quer falar
em beijos lentos, tímidos amores.

O tempo para e o mundo explode em cores,
silente o corpo conjuga o verbo desejar.
No toque, o fogo busca se encarnar,
nas veias dançam chamas e fervores.

A paixão é estrela em febre, delirante,
que beija o abismo e solta o grito,
tornando a carne súbita e vibrante.

E nesse instante breve e tão bendito,
o coração em crepitar palpitante,
ouve o divino em seu grito mais bonito.


Affonso Milcíades Alves de Abreu

Advogado militante por 40 anos, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Rio de Janeiro, especialista em Psicologia Analítica Junguiana, analista em formação pelo CEJAA – Centro de Estudos Junguianos Analistas Associados.



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