Chegou aquele momento do ano em que precisamos distribuir presentes: confraternização da firma, amigo secreto, natal em família… semear livros é sempre uma boa pedida e para ajudar nessa missão, selecionamos dez títulos – de teoria política à poesia – que podem causar (um belíssimo impacto no coração dos que acreditam em outro mundo possível) no Natal em família.

Veja a lista:
1 – Como nasce e morre o fascismo – Clara Zetkin
Se dissessem que a Clara Zetkin escreveu esse texto fundamental e atemporal para destrinchar a chegada de Bolsonaro à presidência do Brasil, seria totalmente possível acreditar. Mas a análise política certeira, e as respostas para o momento de crise, foram publicadas pela primeira vez em 1923, na Alemanha. De leitura fluída e direta, este livro ajuda a apontar caminhos em meio às águas turvas que navegamos. (Editora Autonomia Literária, 128 páginas, R$30)
2 – Árvore de Diana – Alejandra Pizarnik
A poesia de Pizarnik chega como quem não quer nada e quando a gente vê, foi tomada pela potência desta poeta argentina. Publicado em 1962 na Europa e na Argentina, este livro só chegou ao Brasil em 2018. O tempo e a distância não afetaram a obra da autora que traz, em versos curtos e cortantes, diálogos com Octavio Paz, Cortazar, e a influência do surrealismo francês. Parece inofensivo, mas vai surpreender quem receber um embrulho com esta pequena jóia da literatura latino-americana lindamente reeditada pela Relicário. (Editora Relicário, 104 páginas, R$ 44,90)
3 – Autópsia do medo – Percival Souza
O delegado Sergio Paranhos Fleury foi um dos mais sanguinários e temidos agentes da ditadura militar brasileira. Neste livro, resultado de um trabalho de fôlego de mais de dez anos de pesquisa e entrevistas com vítimas, o jornalista Percival de Souza traz um estudo profundo sobre a vida do monstruoso Fleury. Conhecer e jamais esquecer o horror da ditadura militar é o primeiro passo para impedir uma trágica repetição da história. (Editora Globo, 650 páginas, de R$65 a R$400).
4 – A república das milícias: dos esquadrões da morte à era Bolsonaro – Bruno Paes Manso
Bruno Paes Manso é uma das vozes mais ativas e corajosas contra as milícias do Brasil. “Dos esquadrões da morte formados nos anos 1960 ao domínio do tráfico nos anos 1980 e 1990, dos porões da ditadura militar às máfias de caça-níquel, da ascensão do modelo de negócios miliciano ao assassinato de Marielle Franco, este livro joga luz sobre uma face sombria da experiência nacional que passou ao centro do palco com a eleição de Jair Bolsonaro à presidência em 2018. Mistura rara de reportagem de altíssima voltagem com olhar analítico e historiográfico, A república das milícias expõe de forma corajosa e pioneira uma ferida profundamente enraizada na sociedade brasileira”. (Editora Todavia, 304 páginas, R$40)
5 – Cale-se – Caio Tulio Costa
Este livro traz uma história quase secreta dos anos de chumbo. Em 1973, Gilberto Gil tinha acabado de voltar do exílio em Londres e fez um show praticamente clandestino na Escola Politécnica da USP para denunciar a prisão de 50 estudantes ocorrida alguns dias antes. A partir de uma fita desta apresentação que foi encontrada trinta anos depois, o autor mergulha no cenário político da época, e resgata com mestria este episódio do movimento estudantil que foi um marco da resistência à ditadura. O livro é baseado em depoimentos de sobreviventes, nos arquivos do DOPS e do Grêmio estudantil da Escola Politécnica da USP. (Editora Girafa, 350 páginas, de R$5 a R$12).
6 – Por um triz: memórias de um militante da AP – Ricardo Azevedo
A Ação Popular (AP) foi uma das mais importantes organizações políticas da esquerda brasileira nas décadas de 1960 e 1970. Neste livro, o autor, que foi membro da organização, traz um relato comovente que mescla a própria biografia à do cenário político da época. Segundo ele, o objetivo era “apenas deixar um depoimento de um ativo militante de esquerda”, mas o que conquistou foi um retrato de uma geração que vale ser celebrado pelas novas fileiras militantes. (Editora Plena, 264 páginas, R$60)
7 – Lula, biografia: volume 1 – Fernando Morais
Um dos maiores jornalistas do país escreve sobre o maior líder operário da história recente. Trata-se do aguardado primeiro volume da biografia de Lula escrita por Fernando Morais, o autor “Olga”, “A Ilha”, “Os últimos soldados da guerra fria”, e outros sucessos históricos. Vencedor de três prêmios Esso, Fernando tem autoridade o suficiente para colocar nestas páginas a história do ex – e oxalá futuro – presidente do Brasil com paixão, cumplicidade e beleza. É o lançamento que promete abalar a ceia de natal em 2021. (Editora Companhia das Letras, 416 páginas, R$75)
8 – Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo – Mário Magalhães
Quem se apaixonou pelo Marighella de Wagner Moura no cinema não pode deixar de ler a biografia que inspirou a obra, escrita por Mário Magalhães. Em ritmo de thriller, o autor reconstitui com realismo desconcertante passagens pela prisão, resistência à tortura, operações de espionagem na Guerra Fria e assaltos da guerrilha a bancos, carros-fortes e trem-pagador. E também recupera a célebre prova de física respondida por Marighella em versos no Ginásio da Bahia e poemas de amor. Declarado “inimigo número 1”da ditadura militar, o militante baiano foi assassinado no dia 4 de novembro de 1969, suas convicções, vida, obra e herança política continuam a inspirar os que lutam por outro mundo, mais justo e soberano. (Editora Companhia das Letras, 784 páginas, R$80)
9 – O Jardim de Marielle – Marjori Silva
Para os pequenos, acaba de chegar uma obra sobre a vida da vereadora do PSOL e ativista Marielle Franco. “O Jardim de Marielle” é ilustrado pela jovem Marjori Silva, de 21 anos, que mantém uma biblioteca na comunidade onde vive, em Campinas (SP), com mentoria da Universidade de Harvard. Este que é seu primeiro livro, conta a história de Marielle, uma jardineira que ao cair acidentalmente num buraco, tem o coração transformado em semente, cuja árvore cria raízes mundo a fora. Lançado no dia 9 de dezembro na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, pode ser encontrado em livrarias físicas. (Editora Mostarda, preço sob consulta).
10 – Cem anos de solidão – Gabriel García Márquez
E por fim, este clássico da literatura latino-americana, o divisor de águas, a história de revoluções, amores e resistência que permeia o continente condenado ao nó da solidão. Neste clássico, Gabriel Garcia Márquez nos encanta com saga dos Buendía em Macondo, e nos ensina sobre a guerra da Colômbia, o caminho para a paz e a possibilidade de uma segunda chance sobre a terra. Cem anos de solidão é uma das obras latino-americanas que merecem sempre ser revisitadas porque desperta nos corações cansados ganas para seguir adiante. Sempre será um bom presente. Há cinco anos, o livro completou meio século e, para comemorar, foram lançadas várias novas edições. As opções cabem em todos os gostos e bolsos, é só escolher. (Edição comemorativa de 50 anos: Editora Record, 432 páginas, R$100)
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