Companheiras e companheiros,
o presente documento – aberto ao debate coletivo – foi elaborado a várias mãos por participantes do Movimento Geração 68 (*), que se reuniram para contribuir com a atualização das referências políticas da nossa atuação comum neste ano decisivo de 2022.

O MOVIMENTO GERAÇÃO 68 E OS DESAFIOS POLÍTICOS DE 2022
Uma visão da conjuntura
Desde a eclosão das manifestações de protesto em 2013 até 2019, vários movimentos de rua foram sendo liderados por setores da direita e da extrema-direita, impulsionados pelo questionamento antidemocrático dos resultados das eleições presidenciais de 2014, pelas dificuldades econômicas de 2015/2016 e pelas consequências da Operação Lava Jato, entre outros fatores.
As eleições de 2018 foram o ápice da ascensão dessa reação conservadora no Brasil, em sintonia com o rápido crescimento de uma nova extrema direita neofascista em termos globais. Ocupado o centro do poder político por um defensor da ditadura militar e de sua restauração adaptada aos tempos atuais, revelou-se, desde o princípio, uma estratégia de golpe de força para implantar um projeto ideológico e autocrático de dominação. Essa perspectiva autoritária e excludente rapidamente começou a romper com aliados e apoiadores, a abandonar bandeiras de sua propria campanha e a impedir qualquer projeto de governo que pudesse coesionar seu próprio campo, transformando o exercício de governar em uma máquina de destruir políticas públicas e de buscar o poder para si e para seus grupos.
Após “jogar ao mar” aliados e bandeiras de campanha e acumular derrotas profundas no enfrentamento da pandemia, o presidente negacionista passou a construir um grande acordo com o Centrão para se manter no poder e tentar uma reeleição a qualquer custo. Conseguiu sua maior vitória política com a eleição de Arthur Lira para presidente da Câmara, criando assim uma blindagem essencial para se manter no cargo e tentar impor sua agenda legislativa reacionária. Por fim, essa aliança acabou entregando a gestão do governo e do orçamento ao Centrão (cujo verdadeiro nome deveria ser “Direitão”), que executa manobras marcadamente fisiológicas e eleitoreiras para se manter sempre no poder, arrebentando ainda mais as finanças públicas e tirando a capacidade do Estado de fazer investimentos estratégicos.
O ano de 2021 finalmente marcou a retomada dos movimentos políticos de rua por parte da oposição ao desgoverno, centrados em partidos e organizações de esquerda e em movimentos sociais de caráter popular, e abriu um novo ciclo político no Brasil.
O início e depois o avanço da vacinação contra a Covid-19 viabilizou essa retomada de iniciativa das forças democráticas – principalmente mais à esquerda – nas ruas.
Mas há que se destacar os longos oito anos vividos pelo campo democrático na defensiva. Por outro lado, a CPI da Pandemia também se mostrou um campo de batalha muito importante, levando o descalabro da gestão genocida e criminosa da pandemia – de forma direta e didática – a milhões de pessoas diariamente sem que, no entanto, o avanço das forças democráticas conseguisse romper a barreira construída para impedir o processo do impeachment.
G68 entra em campo
O surgimento do Movimento Geração 68 se deu em total sintonia com essa retomada ao propor, já em abril, a volta às ruas. Em que pesem nossas limitações, conseguimos marcar presença e mostramos capacidade de alimentar os debates, fazer propostas e contribuir com a educação política de setores da sociedade; estivemos em todas as manifestações unitárias do Fora Bolsonaro, criamos nossa própria agenda com as manifestações de 26 de junho, com o ato no Teatro Ruth Escobar, com a entrega da Carta Aberta da Geração 68 à ABI, OAB, CNBB e ao Congresso Nacional, entre outras iniciativas pontuais, com lives importantes no final do ano e com os cursos de ativismo digital.
Acuado pelas manifestações de massa e por uma oposição generalizada que se disseminou em grande parte da sociedade, nas instituições, na comunidade científica, na imprensa – sobretudo na contra-hegemônica – e influenciou até as Forças Armadas, o bolsonarismo ensaiou uma reação nas ruas no 7 de setembro, buscando brechas para acelerar um golpe por meio de sua anterior força de mobilizaçao e das milícias de todo o tipo. Contudo, seu isolamento abortou a tentativa golpista e o levou a um “arreglo vexatório”, apesar de realimentar as suas bases mais fiéis e de jogá-lo de vez nos braços do “Direitão”, que passou a governar de fato o País, afastando o risco de impeachment e lhe dando estrutura partidária e financeira pra tentar a reeleição.
Tínhamos naquele momento dois movimentos antípodas de ruptura política (o Fora Bolsonaro e o golpe autoritário do bolsonarismo). O impasse das manifestações de rua e a opção do comando das oposições pela prioridade do caminho eleitoral geraram o “empate técnico” vivido até hoje, contribuindo para o maior refluxo dos movimentos de rua. Neste quadro, têm ganho cada vez mais importância as batalhas nas redes sociais e as articulações e mobilizações eleitorais.
Área de batalha crucial
O principal campo de batalha e de influência dessa extrema direita é o território da comunicação nas redes sociais. Com um uso antecipado da Internet em relação às forças democráticas e de esquerda, com muitos recursos e com ações em grande parte criminosas, ela consegue atingir em cheio a insatisfação, os medos, preconceitos, recalques e frustrações presentes em grande parte da população.
Para a esquerda e as forças democráticas em geral, como não há recursos disponíveis para financiar essa mobilização digital, a questão se coloca de outra maneira. A batalha no território virtual, para ser eficaz, exige um conhecimento específico e muito treinamento. Utilizada também como ferramenta auxiliar nas mobilizações de rua, nas iniciativas de propaganda e de formação, o território das redes sociais é cada vez mais um instrumento de luta efetivo por direitos e pela democracia. No entanto essa efetividade, para ganhar escala, precisa também mobilizar alguma forma de financiamento.
A batalha mais ampla e prioritária neste momento histórico vivido no Brasil é derrotar o bolsonarismo e as forças neofascistas, fazendo avançar a democracia. Há várias frentes nessa luta e devemos empenhar esforços para que as convergências se concretizem em mobilizaçoes sociais, nas ações nas redes sociais e na vitória no processo eleitoral.
Quanto a 2023, é preciso enfatizar que a herança maldita, dessa vez, terá uma dimensão de catástrofe nacional. Quem for eleito em outubro e tomar posse em janeiro vai ter que lidar com várias crises acumuladas e superpostas. Algumas delas já vêm sendo gestadas há muito tempo, mas a maioria é decorrente da sanha destruidora do governo atual.
A futura composição do Congresso Nacional é também uma questão decisiva. Não há fórmulas mágicas. Como não se divisa no horizonte um processo revolucionário no qual a grande maioria da sociedade possa varrer do poder as oligarquias e seus representantes, o caminho viável para mudar o quadro atual é aumentar significativamente as bancadas progressistas do Congresso nas eleições. Para isso, uma das condições indispensáveis é a formulação de uma plataforma muito clara de enfrentamento das várias crises e defendê-la fortemente junto à sociedade de forma a convencer a maioria do eleitorado de que não basta tirar o genocida, mas vai ser preciso afastar também os seus apoiadores da Câmara e do Senado.
OBJETIVOS E TAREFAS PRINCIPAIS
- A tarefa de fundo político-ideológico do Movimento Geração 68 – que decorre da sua própria origem e razão de ser -, é a de contribuir para a formação das gerações de combatentes atuais e futuras com reflexões, exemplos, e propostas políticas à luz da experiência acumulada pelos participantes do movimento, em nível nacional e internacional. As referências maiores para isso ao longo da história são: postura revolucionária, antes e sempre, de mudança da sociedade, de defesa radical da democracia, de combate às desigualdades e em favor de uma sociedade justa.
- Nos tempos atuais, o que une mais fortemente o Movimento Geração 68 é o combate ao neofascismo e ao neoliberalismo.
- Neste ano de 2022, o papel principal do Movimento Geração 68 é o de contribuir para a maior e mais efetiva participação política e orgânica de setores da sociedade civil no processo político (com propostas e buscando criar canais para tal) tanto nas lutas de massa contra o governo atual quanto no processo de construção das candidaturas capazes de derrotar o genocida e seus seguidores. Nesse sentido, a tendência atual é a da consolidação da Candidatura Lula como a mais viável, de acordo com as pesquisas e manifestações públicas de apoio. O Movimento Geração 68, em sua grande maioria, reconhece e apoia essa tendência, mas mantém o diálogo aberto e fraterno, interna e externamente, com todos que defendem outras opções progressistas ou à esquerda. Esse é um papel político e orgânico concreto que o Movimento Geração 68 deverá exercer ao lado e conjuntamente com outros movimentos, organizações e coletivos progressistas da sociedade civil.
Quanto às formas de atuação e luta:
- Presença efetiva e fortemente simbólica, quando possível, nas manifestações políticas e de rua;
- Participação nas articulações e coordenações políticas dos movimentos e organizações sociais (e também dos partidos políticos de esquerda e centro-esquerda, quando viável);
- Contribuição constante por meio de textos, cursos, seminários etc para a formação político-ideológica das novas gerações;
- Dedicação especial à atuação por meio das redes sociais, fortalecendo e ampliando as experiências que já estão sendo feitas; este já está sendo e será um dos caminhos fortes da presença e influência do Movimento Geração 68 na sociedade.
- Por fim, maior atenção às atividades internas e consolidação da organização do Movimento em nível nacional e local.
Fevereiro e Março de 2022
Movimento Geração 68
(*)
Aytan Sipahi
Carlos Tibúrcio
Fred Ghedini
Hélio Doyle
Jacques Yazbek
Jean Marc von der Weid
Lorenzo Balen
Luiz Carlos Furtado
Mateus Forli
Marcelo Chueiri
Mariana Serafini
Ricardo Pimenta
Rodrigo Tomazini


Deixar mensagem para JOSE JAIRO DE MELO COSTA Cancelar resposta