Numa tarde de 1967, eu, Umberto Trigueiros, Milton Gaia e Nielse Fernandes, nos reunimos na casa do Sebastião Cruz. Era uma das muitas reuniões da Dissidência do PCB do Estado do Rio.
A Dissidência surgiu como um contraponto às posições do Comitê Central do PCB, que insistia numa aliança com a burguesia e na luta institucional para derrubar a ditadura militar.
Então, justamente quando a gente debatia acaloradamente, se a forma de luta seria, movimento de massas ou foco guerrilheiro, ou então uma combinação das duas, a reunião foi interrompida pela irmã do Sebastião.
Linda como ela só, tipo esportivo e esvoaçante, a jovem irrompeu na sala com um Long Play na mão.
– Pessoal, vejam só o que acabo de ganhar. O último lançamento dos Beatles.
E assim, ela colocou pra tocar na vitrola “ Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, e nós, extasiados, deixamos a revolução pra depois, passando o resto da tarde embalados pela magia vinda de Liverpool.
Aluízio Palmar é jornalista, e fundador do CDHMP de Foz do Iguaçu. Em 1969, foi preso e em 1971, banido do País, após ser trocado juntamente com outros presos políticos, pelo embaixador da Suiça. É autor do livro “Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?” e em 2020, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, concedida por entidades de direitos humanos e movimentos sociais. É editor do portal Documentosrevelados.com.br


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