Após os atos terroristas em Brasília, torres de transmissão de energia
foram derrubadas em Municípios de Rondônia, Paraná e São Paulo e a
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) falou em vandalismo e
sabotagem. Esta ação merece uma reflexão.

A matriz elétrica brasileira está fundamentada em usinas
hidroelétricas, apesar da participação das térmicas e atualmente da
crescente incorporação das usinas eólica e solar. O Sistema Elétrico
foi pensado para ser alimentado pela rede hídrica das diferentes
regiões do país, uma vez que o comportamento do sistema fluvial
difere em cada região, isto é, quando uns rios estão mais secos
outros estão mais cheios, desta maneira a capacidade hídrica de
produção de energia pode ser mantida e sua transmissão não é
afetada. O sistema brasileiro é o único sistema interligado no mundo,
assim chamado porque permite o intercambio da energia gerada em
todo o país, exceto daquela produzida em sistemas isolados,
localizados principalmente na região Norte. A integração teve início
na década de 60 com a intensificação das grandes obras de
hidroeletricidade, inclusive durante o período pós golpe militar,
quando dois grandes sistemas de transmissão foram integrados:
Sul/Sudeste e Norte/Nordeste, mais recentemente e como
consequência do grande apagão no Governo FHC, foram
intensificados os reforços no sistema transmissão e já durante o
primeiro Governo Lula, foi equacionada a interligação norte/nordeste
com sul/sudeste ao lado da interligação com o sistema elétrico
argentino, permitindo a troca de energia em caso de risco de
racionamento em ambos os países. Assim a transmissão de energia é
possível graças ao Sistema Interligado Nacional (SIN), que
atualmente apenas não engloba cerca de 2% dos sistemas isolados.

Não fosse a interligação do Sistema Elétrico, os atos de vandalismo
teriam evoluído para um apagão generalizado e apesar de não
impactarem a conta de luz no curto prazo, uma vez que não
causaram prejuízos financeiros significativos nem problemas na
operação do sistema, o mesmo não pode ser dito sobre o médio e
longo prazo. Se o vandalismo continuar, os custos para prevenir
danos físicos e/ou cibernéticos às redes de geração, transmissão ou
distribuição vão onerar o consumidor, que terá o valor de sua conta
de luz ainda mais alto.

É intrigante que num curto intervalo de tempo, torres de transmissão
tenham sido atacadas no Norte e no Sul do país. Qual o objetivo
destes ataques? Quem poderia ter passado informações sobre o
Sistema Elétrico e/ou orquestrado os ataques? Torres que transmitem
energia gerada em Itaipú foram derrubadas. Por quem e Por que?

O Gabinete de Crise deve fazer uma investigação rápida e tomar
medidas corajosas para cessar estes ataques.

Artigos consultados:

• Dossier-de-Energia-2022. – Brasil: um foco no setor elétrico
• Entenda como funciona o sistema elétrico brasileiro. Folha de São Paulo, 19/06/2021.
• Rede elétrica requer recursos contra ataques. Valor Econômico,13/01/2023.
• Torre de energia em SP é alvo de sabotagem. Valor Econômico,13/01/2023.

Elizabeth Maria Costa de Oliveira é Bióloga com Mestrado e Doutoramento em Ciências nas áreas de Genética e Bioquímica. Compõe a equipe de Redes Sociais do Movimento Geração 68.