UM GOLPE EM VÁRIOS ATOS – ISABEL PEREZ

Boaventura Souza Santos, José Genoíno, Breno Altman, entre outras vozes abalizadas, defendem que o Governo Lula atue rápida e firmemente sobre todos os segmentos golpistas que ameaçam a democracia. Entre estes está o segmento militar que até o momento mantém um silêncio suspeito e ameaçador, mesmo após todo o vandalismo ocorrido em Brasília. Outros, como Wadih Damous, argumentam que é preciso “desbolsonarizar” as instituições, inclusive separando a ABIN do GSI para que o governo civil possa ter o controle da inteligência das informações de maneira que estas saiam da tutela militar. Há ainda quem lembre que, sem mobilização popular, Lula não conseguirá terminar seu mandato.

Fato público e notório é que o golpe está em andamento e tem vários atos. O último deles ocorreu em 08 de janeiro de 2023, mas já vem sendo testado em vários momentos, desde as suspeitas fiscalizações da PRF nas estradas durante o 2º turno eleitoral, aos bloqueios de caminhões de bolsonaristas nas rodovias – logo a seguir ao 2º turno – que durou quase duas semanas, passando pelos acampamentos de grupos fardados de verde e amarelo nos quartéis há cerca de dois meses, pedindo por intervenção militar, assim como pelos tumultos com incêndios de carros e ônibus no dia da diplomação do novo governo, sendo seguido por uma bomba colocada sob um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília, na véspera de Natal. Para completar, nesse meio tempo, tem havido sabotagens em torres de transmissão de energia elétrica que alimentam o fornecimento de energia para todo o país, numa inequívoca demonstração de que a serpente do golpismo está bem viva.

Mesmo tendo claro que militares não constituem uma classe social em si mesma e que os golpes clássicos contra democracias são fomentados e financiados por setores do capital em disputa por hegemonia com outros setores capitalistas, paira sobre o novo governo a sombra ameaçadora do golpismo com requintes de neofascismo, sustentado pelas forças militares. Portanto, há razões de sobra para preocupação com os segmentos militares (FFAA, PMs, PRFs) que historicamente no Brasil se colocam em defesa de golpistas e ditaduras. Nos episódios descritos acima, parte significativa destas forças já deixaram claro de que lado estão.

Compreende-se que o momento é delicado e que mesmo dentro das FFAA não há consenso sobre participar desta empreitada golpista. Talvez por isso, o governo Lula tenha mantido o Ministro José Múcio no cargo. Talvez o governo tenha receio de romper um provável frágil equilíbrio entre comandantes não golpistas e seu oficialato insatisfeito com o resultado eleitoral, cuidando para não perderem sua autoridade sobre os comandados. Talvez.

Talvez a cabeça da serpente não esteja escondida dentro das forças militares, que funcionam como braço armado de quem realmente deseja e vai executar outros atos deste golpe em andamento. Como bem disse Lula, militares não constituem um poder moderador e terão que se comportar como é exigido pela Constituição Federal. Por isso, deve-se lançar as perguntas: a quem realmente interessa este golpe? Que setores do capital se beneficiam com esta aventura golpista?

Isabel Perez, Assistente Social, professora universitária, mestre e doutora em Educação. Compõe a equipe de Redes Sociais do Movimento Geração 68.


Respostas

  1. Avatar de Maria Selma de Castro Araujo

    Boa pergunta, que tem uma única resposta, considerando que em toda crise cíclica do capitalismo se fortalecem forças políticas que vão de ameaças à democracia ao aceno para implantação de regimes nazi fascistas.

  2. Avatar de MOISES NUNES PEREIRA

    O sistema financeiro é um dos segmentos , senão o principal, interessado num eventual golpe, basta ver a história do golpe de 1964 quando um dos principais fomentadores foi o banqueiro mineiro Magalhães Pinto, outro segmento , já bsabido por todos ,é o agronegócio.

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