Serviços de inteligência deram alerta sobre a possibilidade de atos terroristas dias antes dos acontecimentos
Ricardo Capelli deixou absolutamente claro na coletiva de imprensa que seu relatório identificou a omissão de agentes de Estado que, mesmo alertados pelos Serviços de Inteligência, não tomaram providências suficientes para impedir a invasão e a depredação do Palácio do Planalto e das sedes do STF e do Congresso Nacional.
A consistência das provas documentais e das imagens captadas por câmeras do governo distrital e da PMDF, anexas ao documento e disponíveis para consultas da imprensa e dos órgãos responsáveis pelas investigações, não deixam margem a qualquer dúvida quanto à negligência e conivência das autoridades responsáveis pela manutenção da segurança do patrimônio público e da vida de seus próprios agentes.
O então secretário da Segurança, Anderson Torres, adiantou suas férias em dois dias após receber esses alertas, seu substituto também foi informado quanto às apurações dos Serviços de Inteligência, o comandante da PMDF naquela ocasião recebeu igual relato do SI da corporação, e o então comandante do Exército no DF também foi alertado pelo SI da Força.
Houve inclusive uma reunião documentada entre todos esses comandos para que as providências necessárias fossem tomadas. No entanto, preferiram ignorar ostensivamente esses alertas e inclusive fazer alterações na segurança da Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios que deixaram esses locais sem a devida proteção.
Além da omissão criminosa desses comandantes, policiais militares e federais e militares do Exército de diferentes patentes são responsáveis por permitirem a invasão dos prédios públicos e sua depredação. Há é claro diferentes gradações nessas responsabilidades, que vão da omissão e negligência conivente à simpatia e apoio direto e indireto à multidão golpista, mas tais diferenças devem ser devidamente apuradas em investigações detalhadas em curso e a serem iniciadas.
Essa conclusão gravíssima traz luz ao acerto do presidente Lula ao exonerar rapidamente os comandantes do Exército, da PMDF, da Polícia Federal, e do STF ao suspender Ibaneiz Rocha de seu cargo como governador do DF, enquanto ocorrem as urgentes investigações. O envolvimento do governo do Distrito Federal já está sob investigação através do STF, a PMDF instaurou inquéritos em sua corporação para identificar responsabilidades diretas, mas o Exército, até o momento, não atuou para identificar e punir a conivência de seus membros com os atos golpistas. O ex-comandante do Exército, Júlio César de Arruda, exonerado por Lula, passou à reserva.
Igualmente chocante é a omissão da imprensa tradicional ao tratar do relatório. Onde a grita, o protesto, as manchetes bombásticas e editoriais que revelem a indignação que deve comover qualquer pessoa de bom senso diante dessa negligência evidentemente conspiratória? Não é mais direito do público ser devidamente informado a respeito da omissão culpada de servidores pagos com seus impostos? Parecem estar mais preocupados em desestabilizar o governo recentemente empossado, do que em divulgar os fatos.
Cabe a nós, população, exercer nossa cidadania e cobrar, cobrar e cobrar para que nenhum desses crimes que ofenderam a nação e o estado de direito fiquem impunes. Mas para que isso possa acontecer, caberia à imprensa independente, aos políticos e militantes em defesa da democracia fazer o papel que a mídia tradicional continua se recusando a fazer. Sem punição a esses e outros criminosos o Brasil não passará a limpo sua história recente, e poderá novamente e em breve ser presa de organizações nazifascistas, que tem constantemente conspirado e agido contra nossas vidas, nossa liberdade e nossa democracia em construção.
Blanca Camargo É servidora pública aposentada da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e militante da Brigada Digital do movimento Geração 68.




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