Nada de novo no livre mercado.
Sério que você está chocado com o feirão da tragédia na tragédia do litoral paulista?você, neoliberal tardio, está chocado com o que mesmo? Por que se chocar com o litro de água vendido a 93 reais? Ora, os donos das bancas do feirão nada estão fazendo demais além de aplicar as premissas do livre mercado! O que há de errado nisso? Simples assim: a lei da oferta e da procura. A mão invisível de Adam Smith. O “não existe almoço grátis”. Eles devem ser leitores de um Locke revisado para baixo. Oportunidade. Empreendedorismo. Individualismo. Estado mínimo. Amoralidade econômica. Meritocracia. Discurso da competência. Sim, todos os mitos do tão propalado livre mercado. Afinal, não é livre?
Viva Ronald Reagan! Viva Margareth Tatcher! Viva meu umbigo!
“Ah, mas numa tragédia?!” Dirá você, neoliberal tardio.
Ora, mas quando foi que o livre mercado se importou com as tragédias humanas? A fome de 33 milhões de brasileiros é o quê? A insegurança alimentar de mais de 100 milhões de compatriotas é o quê? A fila do osso no estado campeão de produção de grãos é o quê? A violência genérica e generalizada nas favelas do Rio é o quê? O racismo estrutural é o quê?
Se considerarmos as premissas (mitos) do livre mercado, o feirão da tragédia é o ápice da realização do neoliberalismo, da racionalidade do mundo financeiro e da liberdade da ganância. Como você dizia até ontem, enquanto os Wallaces Laras choram, outros vendem lenços.
De forma geral, a humanidade se divide em duas, apenas duas: os solidários e os egoístas. Dependendo do lado que você esteja, a tragédia na tragédia deve ou deveria ter outro significado.
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Dilson Cunha é arquiteto, historiador e artista plástico.



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