O 8 de março não é uma data escolhida ao acaso. Ela é um marco histórico na luta da mulher moderna, urbana, fabril e partícipe da força de trabalho no pós-revolução industrial.
Se por um lado a alemã Clara Zetkin ao lado da Alexandra Kollantai, tenham nos ensinado sobre luta, mobilização e resistência e as 129 operárias que faleceram no incêndio da tecelagem Triangle Shirtwaits, em Nova York, em 25 de março de 1911, escancaram a precarização do trabalho feminino no início do século XX; por outro lado, o dia Internacional da Mulher necessita agregar às reivindicações político-econômicas, aspectos subjetivos vitais para que tenhamos um salto de qualidade na consciência da pluralidade da nossa luta feminista.
Entendo que datas são agendas importantes no que concerne à memória social. Por essa razão, na presença do Dia Internacional da Mulher faço um resgate de algumas questões subjetivas relevantes a essa anamnese coletiva.
Resgate necessário porque somos plurais: somos mulheres brancas, mulheres pretas, mulheres com etnias variadas, mulheres héteros, mulheres LGBTQIA+, mulheres pobres, mulheres com deficiência, além de uma gama de singularidades femininas que não são contempladas na grande maioria das referências no 8 de março. Sobretudo, após o atual renascer do neoconservadorismo da extrema-direita.
Nesse sentido, problematizo: Que mulher internacional é essa? Quais critérios de mulheridade usamos para celebrar, conscientizar e analisar essa data? Qual modelo de feminilidade referenda essa data?
Feministas como Séjourner Truth, Assata Shakur e Lélia Gonzales, sempre olharam com insubmissão o papel das mulheres na representatividade do 8 de março, uma vez que existem mulheres que ainda não deixaram aflorar sua essência empática. Atenção, não se trata de culpabilização ou negação do sisterhood, cunhado por Kate Millet, e sim de um clamor!
O que se clama é a responsabilização de todas nós na luta pela liberdade de cada uma de nós!
Com isso, torna-se um imperativo categórico lembrar (nesse 8 de março) a cada uma das mulheres, que o sistema patriarcal ocidental nos divide e não podemos ser massa de manobra, rebaixando nosso próprio lutar coletivo.
Dessa forma não podemos cair nas armadilhas de comportamentos que julgam outras mulheres por suas escolhas pessoais ou desrespeitam suas reivindicações. Temos que desconstruir a rivalidade feminina e substituir pela pauta da união.
Mais do que nunca, o gatilho da empatia deve ser ativado para fomentar o pluriverso de ser mulher! O patriarcado nos trouxe a capacidade de sermos empáticas, de expressarmos sensibilidade com a dor das outras mulheres.
Mais do que nunca, precisamos romper com as verdades hegemônicas que nos universalizaram! Mais do que nunca, precisamos resgatar nessa memória social, um 8 de março que poderá transformar essa data em uma efeméride daquelas que nos matrigestam e aquilombam!
Nosotras não possuímos recortes ou diagramações, possuímos sororidade das irmãs/minas/sister que caminham juntas em um auxílio mútuo para que possamos viver sem negociar nossa humanidade diante de um modo de produção social patriarcal cis-hetero-normativo.
Nesse sentido, hoje é o dia D!
De olharmos com minúcia e amor para a nossa própria condição feminina e removermos tudo o que nos impossibilita de sermos nós mesmas e de exercermos a sororidade que cada uma de nós necessita. Afinal, se é por todas é por cada uma também!
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Ligia Maria Bueno Pereira Bacarin é professora de História na rede pública de ensino. Com mestrado em Fundamentos da educação e pós graduação em Educação Especial. Militante do Psol-PR e colaboradora nas mídias sociais da Geração 68.



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