DA INJÚRIA AO MÁRCIO POCHMANN À ENTREVISTA DE ZELENSKY HÁ FUMAÇA CINZA. 

Francisco Celso Calmon

Em julho de 1995 eu fui caluniado pelo Jornal do Brasil na coluna da direitista Dora Kramer. Fui em busca da reparação de justiça à minha honra e contratei um dos melhores escritórios de advocacia do Rio, cujo patrono era o Dr. Paulo Cezar Pinheiro Carneiro.  

Queria a retratação da jornalista, queria a sua condenação por danos morais. Estava muito magoado, revoltado com tal vilania.

O advogado me convenceu que deveria processar o jornal e não a jornalista, pois, além de responsável por abrigar jornalista sem ética, tinha mais recursos financeiros para a indenização. E assim foi feito. Ganhei um quantum considerável de indenização em 1997. 

Eu mesmo divulguei o resultado do processo em outros jornais e gravei junto com meus ex-assessores na CMRJ a nossa versão, transformada em livro com o título “Sequestro Moral e o PT com isso?”.

Livro que, apesar de muitos erros gramaticais, foi o desabafo, a catarse, indispensável de quem cultiva a dignidade da honra e sofre imputações criminosas. 

As empresas Globo, jornal e TV, são dolosamente responsáveis pelas injúrias e difamações proferidas contra o economista Marcio Pochmann, sem base factual, exclusivamente por suposição, à semelhança da lava jato.

Quanto a entrevista de Zelensky, que foi ao ar na noite do dia 27 de julho na Globonews, faço de pronto algumas indagações. Quem é o repórter que o entrevistou, seu currículo? A serviço de quem realizou a entrevista?  Com qual finalidade?

As perguntas feitas na entrevista foram todas preparadas antecipadamente e lidas, o entrevistador não fez nenhuma de momento, em cima das respostas do entrevistado.

O Brasil não tem material que possa ajudar à Ucrânia na guerra, portanto, quais as razões desse assédio continuado, desde a reunião do G7, da mídia golpista, dos EUA, da União Europeia e desse pequeno peão no xadrez da geopolítica mundial, ao presidente Lula?

O eventual e improvável apoio do Lula teria efeito moral e político, por que, então, uma entrevista com perguntas já conhecidas pelo entrevistado, com as respostas preparadas antecipadamente, pode ajudar e em quais aspectos?

O investimento feito nessa guerra pelos EUA, União Europeia, OTAN, dificulta qualquer acordo que não seja baseado numa premissa simples e essencial: nesse conflito todos perdem, portanto, o que devem se perguntar é o quanto mais estão dispostos a perder?

A entrevista, sem mérito jornalístico, teve por eixo único constranger Lula a dar algum apoio a Zelensky. Serve a quem esse tipo de matéria, sem qualquer mérito jornalístico? Serve a TODOS que temem o protagonismo internacional do Lula e o sucesso interno do seu governo.

Lula prega a paz.  Se o presidente da Ucrânia também desejasse a paz, estaria apoiando a pregação do Lula. Mas Zelensky não a deseja. Só a guerra lhe dá protagonismo.

A arrogância de Zelensky, sua postura onisciente e heliocêntrica, como se o mundo girasse em torno da Ucrânia, como declarou afirmando que todos os países estão responsáveis por essa guerra, não é a de quem dialoga, mas de quem quer impor, como se dono da verdade fosse.

Ele afirmou que virá ao Brasil, caso a agenda de guerra o permita, e deseja convencer Lula a reunir todos os países da América do Sul em apoio à Ucrânia.  

O embaixador da União Europeia no Brasil, Ignácio Ibanez, criticou nas suas redes sociais o presidente Lula por ter ligação com regimes como o de Cuba, Nicarágua e Venezuela. Segundo o embaixador, Lula teria “ditadores de estimação”.

Um embaixador fazer tais comentários é um deslize diplomático que o governo brasileiro não pode aceitar.

Funcionários do Departamento de Estado dos EUA têm vindo ao Brasil para entabular com membros do governo Lula assuntos de preocupação comum, entre eles a guerra na Ucrânia.

A conspiração ao governo Lula está em curso acelerado: funcionários da UE, dos EUA, a Globonews, Miriam Leitão, Malu Gaspar, tumultuando o ambiente interno, com intrigas e tentativas de interferir nas nomeações do Presidente.

“Economia é como cristal, mesmo que seja uma ingerência sutil, pode levar à quebra de confiança”. (Miriam Leitão).

Você entendeu? Nem eu.

Economia não tem a solidez e nem o brilho de um cristal. Frase feita, sem efeito, vazia e sem respaldo teórico e histórico.

O Brasil caminha bem, independente das opiniões dos agentes da mídia golpista e submissa aos desígnios imperialistas.

E mesmo auferindo muitos resultados favoráveis, nesses poucos seis meses, procuram a desestabilização do governo, inclusive continuando a colocar a áurea de bonzinho no Haddad e a pecha de mauzinho no Lula.

Infelizmente a comunicação do governo continua a claudicar. Não replica a tempo e a hora a esses ataques aleatórios e desagregadores, consoante a um plano tácito dos três êmes (mídia, mercado, militares).

Plano este que trabalha com duas alternativas: golpe na forma híbrida ou o chamado semipresidencialismo.

Campos Neto não pode fazer mais prejuízo ao Brasil do que já foi feito, porém, Arthur Lira, presidente da Câmara federal, pode e ainda fará muito mal ao governo Lula.

Não esqueçamos que ele foi sócio do governo bolsonarista, atuou como uma espécie de primeiro ministro, que tinha o presidente sob domínio absoluto e o orçamento secreto nas mãos, portanto, a herança perversa deixada pelo governo passado, tem como responsáveis Bolsonaro e Arthur Lira.

Lira é o jagunço da chantagem, não preza harmonia entre os poderes, cultiva a barganha como se a relação entre os poderes fosse como num jogo de poker no escuro, duas cartas abertas e três fechadas.

O governo Lula não tem estrategista, como outrora teve com Zé Dirceu, independente de não entrar no mérito dos erros e acertos.Por isso, não tem proação, fica mais na tática defensiva e reativa. A iniciativa tem cabido aos adversários político-ideológicos.    

O governo tem limitações politicas para fazer um debate no plano ideológico, os partidos não têm, entretanto, parece estarem hibernando. 

A esquerda tem quadros com capacidade e poderiam elaborar uma estratégia partindo dos dois cenários possíveis.

O governo está apostando tudo no êxito da economia.

Todavia, o cerco da guerra de movimento que o governo está sofrendo, conforme evidências acima, mostra que esse êxito não será suficiente, salvo se acompanhado de agitprop junto aos trabalhadores.

Para tanto, Lula teria que mobilizar a sociedade.

Felizmente, no presente, há uma mídia livre, pequena, mas eficaz, como este e outros portais de comunicação.

Francisco Celso Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Foi líder estudantil no ES e Rio de Janeiro. Participou da resistência armada à ditadura militar, sendo sequestrado e torturado. Formado em análise de sistemas, advocacia e administração de empresas. Foi gestor de empresas pública, privada e estatal. Membro da Frente Brasil Popular. Autor dos livros “Sequestro moral e o PT com isso?” e “Combates pela Democracia”, coautor dos Livros “Resistência ao Golpe de 2016” e “Uma sentença anunciada – O Processo Lula”. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Articulista de jornais e livros, coordenador do canal Pororoca.


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