Para desanuviar um pouco da sinistra situação política planetária

Tomás Togni Tarquinio

A foto de Getúlio Dornelles Vargas, balangando as perninhas em um balanço infantil, tarja preta de luto presa na lapela, chapéu de feltro e botas de cavaleiro, foi tirada em um jardim de Poços de Caldas, tempos em que, a miúde, frequentava a estância hidrotermal. À direita, Juscelino Kubitschek de Oliveira, “le bellâtre” em pose de galã, jaquetão escuro e chapéu de palha às mãos, era um dos membros da comitiva de acólitos que acompanhava o Presidente da República, juntamente com Arnon de Mello, pai de Collor, também presente na foto.

Contam as más línguas que Nonô, como Juça era conhecido, após doutorar-se em urologia na Sorbonne, ao regressar a Belo Horizonte, curava, com sucesso, praças, cabos, tenentes e oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais que o acolheu como oficial médico. Graças aos novos conhecimentos terapêuticos que adquirira na França, rapidamente exterminou estafilos e gonococos que pululavam nos quarteis da corporação. Juscelino passou a ser reconhecido como um excelente profissional. Benedito Valladares, à época Presidente do Estado de Minas nomeado por Vargas, ao tomar conhecimento das façanhas terapêuticas do jovem médico, o convocou para resolver um problema atinente a sua especialidade, sabe-se lá em proveito de quem. As más línguas atribuíram a esse episódio anódino – no caso de sua especialidade – o despontar de uma parceria política entre ambos. Nono passou a ser seu chefe de gabinete, cargo que, ao fim e ao cabo, foi a porta de acesso à sua fulgurante trajetória até chegar a Brasília.

Porém, as maldades não pararam por aí. Conhecido como “pé de valsa”, JK adorava dançar. Ainda mais em períodos de campanha eleitoral. Ao ser inquirido por qual razão sempre tirava a donzela menos agraciada pela natureza para bailar nos salões das cidades do interior, respondeu sem hesitar: “é um voto para o resto da vida”!

Sem dúvida, dentre os médicos e políticos Latino Americanos mais relevantes, Kubitschek, nascido em Diamantina, filho de caixeiro-viajante e professora de ascendência tcheca de etnia cigana, deve ter sido aquele que obteve maior sucesso na profissão. Salvador Allende Gossens, Presidente do Chile, afirmava, com orgulho, que sua maior tarefa como médico foi praticar uma centena de autópsias de cadáveres durante sua curta carreira. “El Che” tampouco exerceu por muito tempo essa antiga vocação. Ernesto Guevara de la Serna, ele mesmo se auto definia como “matasanos”.

Se non è vero, è ben trovato”, como dizem os carcamanos.


Tomás Togni Tarquínio

Formado em Antropologia e Prospectiva Ambiental na França. Desde 1977, trabalhou em diversas instituições francesas e europeias pioneiras sobre: energia, ecologia política, meio ambiente, decrescimento e colapso da sociedade termo-industrial. Foi Secretário do Governo do Amapá, por ocasião da execução do pioneiro Projeto de Desenvolvimento Sustentável do Amapá (PDSA); trabalhou no MMA e Senado.



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