Liszt Vieira
O Governo Lula 3 se caracterizou pela conciliação com o mercado, os militares e a direita no Congresso. Em troca, conseguiu alguns pequenos avanços. Na segunda metade do mandato, isso não será suficiente para ganhar apoio popular e vencer a eleição em 2026.
A conciliação com os militares ficou arranhada com a recente prisão de alguns oficiais, principalmente o general Braga Netto. O Ministro da Defesa, tradicionalmente porta voz dos militares, pediu para sair alegando razões pessoais, mas isso pode ser sinal de futuros conflitos de que ele prefere estar afastado. De qualquer forma, a prisão dos militares foi obra do STF e da PF, e não do Poder Executivo.
A conciliação com a direita no Legislativo continua e o país paga um alto preço. O maior ganho até agora talvez tenha sido a reforma tributária, que não se traduz em votos. E no Ministério, a direita faz a festa, com destaque para Agricultura fomentando o desmatamento e incêndios promovidos pela agropecuária, mineração, madeireiras, garimpagem etc. E também para os Ministérios de Energia e Transporte, sem esquecer a mediocridade dominante nos demais, inclusive nos Ministérios da área social na mão da esquerda, cujos Ministros ainda não disseram a que vieram.
A conciliação com o mercado é suicida. São 546 bilhões de reais em isenção fiscal para as empresas. Isso é três vezes superior a todo o orçamento do Bolsa Família para ano que vem, previsto em 167,2 bilhões. O destaque dos benefícios fiscais vai para as empresas ligadas ao agronegócio. E as despesas do Governo com juros da dívida pública em 2023 foram de 614,5 bilhões, o que representa um aumento em relação a 2022, quando o valor foi de 503 bilhões.
Assim, se o Governo mantiver esse padrão de conciliação com a direita até o final, serei obrigado a abrir mão do meu tradicional otimismo, e a temer pelo resultado da próxima eleição presidencial, com ou sem Lula. O mercado, a direita parlamentar aliada e os militares vão apoiar o candidato da direita, seja quem for, com o apoio entusiástico da mídia. Claro que outros fatores pesam, como o custo dos alimentos (mais do que os famosos índices econômicos como PIB, taxa de desemprego, inflação etc.) bem como questões ligadas a costumes.
Em suma, ou Lula muda seu padrão conciliatório de governo e parte para a mobilização popular em torno de um programa de esquerda, via declarações na mídia e nas redes sociais, além de manifestações de rua, ou corremos o risco de perder a eleição em 2026.
Liszt Vieira

Formado em Direito, com Doutorado em Sociologia. Foi exilado nos anos 70, deputado pelo PT no RJ nos anos 80, Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio-92. Foi Professor da PUC-Rio e Presidente do Jardim Botânico do RJ de 2003 a 2013. Atualmente é membro do Conselho da Associação Terrazul e um dos Coordenadores do Fórum 21.


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