Liszt Vieira
No meu livro lançado no final do ano, A Democracia na Encruzilhada, discuto a hipótese de Lula se transformar em “pato manco”, ainda este ano. Ou seja, se continuarem as concessões ao mercado, ao Congresso e aos militares, em nome da governabilidade, corremos o risco de perder a próxima eleição, com ou sem Lula, contra um candidato de direita, fortemente apoiado pela mídia.
Se continuar a política de aliança com a direita para combater a extrema direita, a esquerda corre o risco de desaparecer no Brasil.
Mais importante do que o escorregão de falar em amantes no discurso de 8 janeiro, é reforçar mitos como o papel do Exército na defesa das fronteiras.
Isso é coisa do século XIX. Os quartéis do Exército nas fronteiras podem ser destruídos em poucos minutos por aviões ou por drones. A estrutura do Exército continua obsoleta.
E a ideologia transmitida pelas escolas militares continua sendo a ideologia de segurança nacional da ditadura militar. É preciso matar o inimigo. Como não há inimigo externo, inventaram o inimigo interno; os comunistas, os favelados, os que vão às ruas fazer manifestações exigindo direitos etc. O que faz o Exército, além de golpes de Estado, repressão popular e sinecuras? Algum politico de esquerda terá algum dia coragem para denunciar a inutilidade do Exército e discutir o papel das Forças Armadas numa democracia do século XXI?
Até quando vamos apoiar um Governo que defende a transferência da maioria dos recursos públicos para o mercado financeiro em detrimento da área social e do desenvolvimento? Se isso se justifica em nome do combate à extrema direita, a agenda da esquerda tende a desaparecer ou, na melhor das hipóteses, a se enfraquecer muito.
A hipótese de Lula se transformar em pato manco é uma hipótese pessimista, mas não é impossível . Tampouco é impossível ele mudar o padrão de governança e apelar para a mobilização popular em defesa do Governo e adotar uma agenda mais à esquerda.
O futuro é imprevisível. O tempo dirá.
Texto publicado originalmente no Forum 21.
Liszt Vieira

Formado em Direito, com Doutorado em Sociologia. Foi exilado nos anos 70, deputado pelo PT no RJ nos anos 80, Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio-92. Foi Professor da PUC-Rio e Presidente do Jardim Botânico do RJ de 2003 a 2013. Atualmente é membro do Conselho da Associação Terrazul e um dos Coordenadores do Fórum 21.


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