Alexandre Santos
A Democracia no Brasil está sob grande perigo. Aliás, sempre esteve. Na história recente, o risco à Democracia esteve no próprio governo – como aconteceu nos períodos de autoritarismo ou de submissão aos interesses estrangeiros, quando o governo administrava o País de costas para o povo e, portanto, de forma não democrática – ou [o risco à Democracia] vinha dos Estados Unidos. Com efeito, em natural decorrência da forma imperial como vê o mundo e da extrema ganância como se porta diante das riquezas alheias, os Estados Unidos querem tudo para si e, com este propósito, precisam mandar de forma direta ou indireta na casa dos outros, um comportamento naturalmente incompatível com a Democracia. Embora tenha validade para todo o Planeta (e todo o Universo), este comportamento dos Estados Unidos é mais acintoso no continente americano. Vem daí a chamada Doutrina Monroe, a qual, com o objetivo de ‘proteger’ a América Latina da interferência europeia, passou a tratar a região como seu ‘quintal’ (America’s Backyard), em regime muito bem esclarecido pelo ‘Big Stick’ de Theodore Roosevelt, cuja política externa consistia no emprego da ameaça e, mesmo, emprego da força militar como instrumento regular da diplomacia. Por razões óbvias, o relacionamento dos Estados Unidos com o Brasil não foi diferente daquele mantido com o resto do continente, especialmente com a América Latina. Foi graças ao Big Steack de Franklin D. Roosevelt (primo de Theodore) que, em 1942, o Brasil foi forçado a entrar na II Grande Guerra. O golpe de 1964 não teria sido possível sem o suporte norte-americano e a ‘orientação’ do embaixador Lincoln Gordon. A tentativa golpista de barrar o primeiro governo Lula através do impeachment programado para vir na sequência da CPI do Mensalão foi gestada sob os auspícios da embaixadora Donna Hrinak. O golpe de 2016 foi urdido no gabinete da embaixadora Liliana Ayalde por expressa orientação do então vice-presidente Joe Biden, que tinha liderado as operações de espionagem ao gabinete da presidente Dilma Rousseff e aos estudos da Petrobrás sobre o pré-sal. Agora, sob a liderança do oligarca Donald Trump, os Estados Unidos não estão sendo diferentes. Quem assistiu ao filme ‘O Grande Ditador’ de Charles Chaplin consegue melhor compreender aquilo que se passa na cabeça de Donald Trump e, por osmose, da turma que o acompanha. Não foi sem razão que, em 10 de abril de 2025, em misto de promessa e ameaça, o secretário de Defesa dos Estados Unidos Pete Hegseth afirmou: “Nós vamos retomar o nosso quintal”. Nos dias correntes, os Estados Unidos avivaram a silhueta do Brasil na alça de mira do Tio Sam e, em nítida operação de Big Steack, tendo como chantagem o funcionamento do poder judiciário nacional, ameaçaram as exportações brasileiras com uma sobretaxa de 50%. Embora a ingerência nos negócios internos do País já constitua uma intolerável ameaça a soberania nacional e à Democracia, a chantagem vinda da Casa Branca tem pano-de-fundo mais tenebroso. De fato, depois de desmascarada pela ABIN, que alertou para a ação da CIA por trás do tarifaço decretado por Donald Trump (“há um plano meticulosamente coordenado com a participação da Casa Branca e da CIA”, diz o relatório), a embaixada dos Estados Unidos perdeu o recato e admitiu abertamente a operação em curso contra a Democracia brasileira. Em encontro com representantes do setor de mineração, o encarregado de negócios e embaixador interino dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, disse claramente que seu país que assumir o controle das reservas de minerais críticos e estratégicos presentes no Brasil (estimadas em cerca de 10% das reservas globais, incluindo a maior reserva mundial de nióbio, a segunda maior de grafite e a terceira maior de terras raras e níquel, além de disponibilidade de lítio, cobre e cobalto). Se, aos minerais críticos e estratégicos, além do tamanho do mercado interno, forem somadas as reservas de petróleo, biodiversidade e água potável, melhor se entende a cobiça dos Estados Unidos sobre o Brasil. Na realidade, na atual investida de Donald Trump contra o Brasil, o que menos importa é o destino do bandido Jair Bolsonaro. O Brasil vive um momento muito grave e exige dos brasileiros união em torno da liderança do presidente Lula, que, com bravura e obstinação, vem empunhado a bandeira verde-amarela na luta pela soberania nacional e pela Democracia.
Alexandre Santos

Engenheiro e escritor. Ex-presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco e presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Escritores, presidiu a União Brasileira de Escritores e faz a coordenação nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural. Autor premiado com livros publicados no Brasil e no exterior, Alexandre é o editor geral do semanário cultural ‘A voz do escritor’ e diretor-geral do canal ‘Arte Agora’.
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