Jean Marc von der Weid, Novembro 2025
Em 1968, o ano “que não terminou”, segundo Zuenir Ventura, ou que terminou mais cedo, segundo este autor, eu era presidente do Diretório Acadêmico (DA) da Escola de Química da Universidade do Brasil, renomeada Faculdade de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, eleito em agosto de 1967. A miha candidatura a presidência do DA foi uma escolha da coordenação da Frente de Esquerda que agrupava os militantes estudantes progressistas da Química, perto de 200 ativistas naquele ano. A Frente não era uma instituição pública, embora não fosse propriamente clandestina. Embora a coordenação da Frente de esquerda acreditasse que eu era membro da Ação Popular (AP) desde 67, eu só aderi à AP em abril daquele ano. Até esta data, eu era o que se chamava na esquerda de “independente”, ou seja, eu não fazia parte dos quadros de qualquer dos partidos presentes no movimento estudantil.
Na Química, eu, ou qualquer dos ativistas, podia escolher entre várias organizações clandestinas que buscavam orientar a militância estudantil:
- AP, que estava em baixa e em crise no movimento estudantil (ME) do Rio de Janeiro, mas era a força dominante no nível nacional, com o presidente e três dos 10 diretores da União Nacional dos Estudantes (UNE) e uma ampla presença em todas as universidades do país, embora em processo de perda de espaço para outras correntes. Prova disso foi a eleição de Luiz Travassos para presidente da UNE no congresso de Valinhos (SP) em 1967. Um acordo dificil entre as correntes (exluindo o PCB e o PcdoB) entregou três vagas para a AP e seis para as dissidencias do PCB e a POLOP, ficando a presidência para ser votada em plenário. Nesta votação Travassos ganhou por menos de 10 votos. O resultado foi que a AP, pela primeira vez desde 1962, ficou em minoria na diretoria, apesar de manter a presidencia. Esta situação foi a raíz das várias crises do ME durante esta gestão, quase levando ao racha da UNE.
- Dissidência do PCB no estado da Guanabara – Di-Gb, força dominante no antigo Estado e que controlava a União Metropolitana de Estudantes – UME, mas sem existência fora do Rio de Janeiro.
- Partido Comunista do Brasil – PCdoB – com pouca expressão no movimento estudantil (ME), com alguma presença em vários Estados do nordeste sobretudo no Ceará, onde dividia as entidades do ME com a AP.
- Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR, que controlava o Diretório Central dos Estudantes da Universidade do Brasil (hoje UFRJ) e com força em Pernambuco e Paraná.
- Partido Comunista Brasileiro – PCB, em franco declínio no ME desde o golpe de 1964, mas com uma força residual na Bahia.
Apesar de vários dos meus melhores amigos terem aderido ao PCBR, eu resisti ao canto de sereia da amizade, apesar de ter ajudado o partido deles em uma importante reunião nacional e abrigado vários na minha casa durante uma operação do DOPS que levou dezenas de militantes para a cadeia no início de 1967.
A Di-Gb, através de seus militantes na Química, tentou me aliciar, mas tanto os seus documentos políticos e ideológicos, assim como os do PCBR, eram demasiado abstratos para o meu nível de consciência política. As teses “táticas” destes partidos estavam centradas nas suas contradições com seu partido de origem, o PCB e a polêmica era sobre a luta armada ou transformação pacífica para a tomada do poder. Já o PCdoB espalhava escritos do presidente Mao e centrava o debate nas questões ideológicas entre marxismo e revisionismo.
Tudo isso era totalmente esdrúxulo para um neófito na política como eu. Meu horizonte político era a luta dos estudantes contra a ditadura e como impulsioná-la. A questão estudantil estava associada (para mim) ao tema da luta pela democracia e da necessidade de uma ampla frente das classes oprimidas (operários, camponeses e classe média, sobretudo os estudantes) para derrubar a ditadura. As questões sociais vinham em seguida nas minhas preocupações, mas só as via como elemento correlato à luta democrática. As questões ideológicas dos partidos de esquerda não me interessavam e mesmo a luta anti-imperialista não fazia, ainda, parte do meu ideário. Em outras palavras, a prioridade política para mim estava na luta democrática contra a ditadura e nos diteitos dos trabalhadores, mas (ainda) não me colocava a questão da tomada do poder pelas classes oprimidas e menos ainda a forma de um governo destas classes.
Não cheguei a ser abordado pelo PCB, embora tivesse ótimas relações com o seu melhor quadro no ME, Davi Capistrano. Em um primeiro momento, meus contatos com a AP também foram frustrantes. Apesar de uma simpatia inicial pelo fato de que eram os únicos não comunistas no movimento estudantil (e eu não era ainda comunista), as teses da AP eram ainda mais abstratas, baseadas em textos filosóficos da esquerda católica que não me diziam nada. A minha adesão à AP veio bem depois, já no meio das mobilizações de 68.
Apesar da minha pouca formação político teórica, ou talvez, por causa dela, eu tinha uma enorme sensibilidade para os temas mais concretos que incidiam na luta estudantil: a qualidade e orientação do ensino de química, o papel de uma universidade pública, a perspectiva profissional para um engenheiro químico nos marcos da indústria nacional e o papel da pesquisa na promoção do desenvolvimento do país. Eu estudei estes temas e pesquisei muito antes de tomar posições.
Um exemplo decisivo na minha militância no ME foi a luta contra a cobrança das anuidades para os estudantes das universidades públicas, instituída em 1967 pela ditadura como parte de sua estratégia de privatização do ensino superior. Decidi estudar mais o assunto porque não estava convencido pelos argumentos da esquerda contra esta cobrança. Na pesquisa, procurei especialistas do ministério da educação e da United States Agency for International Development (USAID) que os assessoravam, assim como professores, estudiosos e políticos críticos da reforma universitária, como Leite Lopes, Márcio Moreira Alvez e Horácio Macedo, entre outros.
Acabei concluindo que a esquerda tinha razão em se opor à reforma universitária e à influência americana através do Acordo MEC/USAID, embora considerasse o discurso da esquerda primário e cheio de chavões. Elaborei um estudo, publicado pelo Centro de Estudos Brasileiros da Escola Nacional de Química (CEBENQ) que foi um grande sucesso no ME e a esquerda se apropriou dos meus escritos e os divulgou (sem a minha assinatura) em várias formas, em todo o país.
Mas devo reconhecer que o meu primeiro impulso oposicionista veio pelo sentimento de que o nosso maior problema no país era o regime ditatorial. Lutar pela democracia estava no DNA do meu avô conservador e do meu pai liberal e, o meu primeiro passo foi entender que o golpe militar “em defesa da democracia” era uma farsa e que os milicos estavam no poder para ficar. Lembro do meu avô conservador (deputado federal cassado por Getúlio Vargas, em 1937) metendo o pau no golpe dias depois do 1º de Abril: “vocês (seus filhos) são todos uns idiotas. Eles vão ficar nas nossas costas vinte anos”. Errou por pouco.
A coordenação da Frente de Esquerda da Química tinha militantes da AP, PCBR, PCdoB, DI-GB e Partidão (PCB). Fui chamado a participar da coordenação desta frente depois da invasão policial da Escola de Medicina, em setembro de 1966, o primeiro momento em que me destaquei da massa de ativistas da Química que tinham participado do enfrentamento com a polícia.
Até hoje não sei por que fui convidado para esta coordenação, já que não era de partido e nem sequer tinha “pedigree” de esquerda. Acho que meus colegas militantes enxergaram um potencial de liderança que eu mesmo não via nem almejava. Este potencial se consolidou no ano de 1967 quando dirigi o Centro de Estudos Brasileiros da ENQ (Escola Nacional de Química), promovendo debates sobre a Reforma Universitária da ditadura, cultura popular, perspectivas da carreira de engenheiro químico, privatização do ensino superior, entre outros.
A Frente de Esquerda tinha sido formada em 1965, quando tomou a decisão desastrosa de boicotar as eleições para o DAENQ, denunciando a nova legislação da ditadura para as universidades, a lei Suplicy de Lacerda, nome do ministro da Educação dos militares e que visava inibir a participação política entre os estudantes. O boicote teve como consequência a eleição de um candidato da direita, meu colega de turma, boa gente, mas totalmente alienado. A participação da Química nos movimentos no ano de 1965/1966 (as eleições para o DA eram em agosto) foram limitadas aos militantes de esquerda, mas salvo uma passeata em maio de 1966, convocada nacionalmente pela UNE (cuja diretoria era presidida pela AP) e, na Guanabara, por uma comissão inter DCEs (a UME ainda não tinha sido reconstituída depois do golpe) nada de muito importante ocorreu.
Uma cláusula da lei Suplicy era particularmente restritiva, na visão da esquerda: as eleições para os DAs eram controladas pelos diretores das faculdades e somente estudantes sem “dependências” podiam se candidatar. As dependências eram disciplinas em que o estudante não tinha sido aprovado e que ele tinha que repetir no ano seguinte. A lógica do regime era a seguinte:
- o movimento estudantil era controlado pela esquerda porque os seus militantes só faziam política e eram, por isso mesmo, maus estudantes, ou, no linguajar dos milicos, “estudantes profissionais”;
- impedindo os maus estudantes de se candidatarem aos DAs por causa das dependências o espaço se abriria para os “verdadeiros estudantes” (segundo os legisladores, os de direita) ganharem as eleições.
O boicote das eleições em 1965 foi generalizado em todas as universidades do país e o resultado foi tão ruim como na Escola de Química. A direita ganhou as eleições por WO e a esquerda tentou criar organismos paralelos, os “DAs Livres”. Isto dividiu o movimento e isolou, relativamente, a esquerda.
A partir de agosto de 1966 a esquerda decidiu participar das eleições oficiais e em dois anos controlava quase todos os DAs e DCEs (Diretórios Centrais de Estudantes, organismos representativos de cada universidade) do país. Na Química, o primeiro candidato desta nova fase foi meu colega de turma, Oswaldo, que vinha de uma militância na juventude católica, mas não era da AP.
Além de um reconhecimento pelos meus colegas pelo trabalho no Centro de Estudos Brasileiros e pela minha forte participação na ocupação da faculdade de medicina nas chamadas “setembradas” de 1966, eu era bom aluno e não tinha dependências. A Frente de Esquerda decidiu que eu seria o candidato para substituir o progressista Oswaldo, claramente um “independente”. Aceitei a proposta com uma condição: os outros cinco membros da chapa seriam escolhidos em assembleias de turma e não pelos “capas pretas” da coordenação da Frente de Esquerda. Embora alguns dos coordenadores da frente ficassem com a pulga atrás da orelha, suspeitando uma manobra da AP para controlar o DA, o processo de escolha foi aprovado e eu fui de turma em turma buscando candidatos na base. Deu certo e formamos uma chapa com alta representatividade. O que eu não sabia é que, dos cinco candidatos escolhidos nas turmas, três eram ex-militantes da JUC (Juventude Universitária Católica) movimento do qual tinha se originado a própria AP. Os três não tinham se integrado na AP, mas eram o que se pode chamar de áreas de influência desta organização.
Fui eleito com boa margem de votos (as eleições eram obrigatórias segundo a lei Suplicy), ganhando em todas as turmas, menos na minha, a mais numerosa da Química. Tornar-me presidente do DA, em agosto de 1967, foi uma encruzilhada importantíssima na minha vida, embora eu não tivesse noção disso na época.
Eu vivia uma crise de vocação naquele momento. Já tinha claro que a minha escolha de um futuro profissional como engenheiro químico era um erro. Eu era um aluno razoável, mas sem nenhum entusiasmo pelos estudos, “cumprindo tabela” de 1964 até 1966. A escolha pela Química tinha a ver com a valorização das carreiras técnicas na minha geração e meu pai era engenheiro químico e geólogo. Dos meus colegas no colégio, apenas os que tinham pais advogados escolheram fazer o curso clássico do ensino médio. As meninas foram quase todas para o clássico (ensino médio orientado para carreiras como literatura, direito, psicologia, comunicação, ciências sociais) e os meninos para o científico (engenharias, medicina, biologia, arquitetura). Eu gostava de história, geografia e português, mas escolher este caminho (o do curso clássico) era impensável. Também gostava de matemática e química, mas nada de física, disciplina básica para os cursos de engenharia. Dos meus amigos de infância, três foram para a química, dois para a engenharia e um para a arquitetura (todos fizeram o curso científico). Um foi para o clássico e posteriormente para a economia, que ficava em um limbo entre os cursos do ensino médio. Outro amigo de infância foi para o clássico e virou advogado.
Desde o primeiro ano da Química, eu sentia que aquilo não era o que queria, mas era impensável abandonar a faculdade e eu não sabia sequer para onde ir. Outro amigo, este conhecido já na faculdade, viveu o mesmo drama e fez uma opção radical, largando a Química pelo Desenho Industrial, mas ele sabia bem o que passou a querer.
A opção de me meter no movimento estudantil tinha a ver com uma crescente conscientização das questões políticas e sociais do país, o que também contaminou a minha mãe, que passou a integrar a Ação Católica, na época fortemente influenciada pela encíclica Populorum Progressio, tornando-se uma militante progressista independente e mais tarde fundadora e presidente do Movimento Feminino Pela Anistia.
Eu devo ter um gene político no meu DNA, já que meu bisavô paterno foi vereador e prefeito do Rio de Janeiro e meu avô deputado federal constituinte, em 1934. Mas ambos foram políticos conservadores, embora meu avô fosse um ferrenho opositor da ditadura de Getúlio Vargas e mais ainda um antimilitarista. Mas o meu caminho para a esquerda não teve nada a ver com a história deste avô, com quem eu discutia política a cada vez que nos víamos. Vovô Fábio (Sodré) estimulava a minha participação política, embora discordasse da minha opção pela esquerda.
Ao fazer a opção por assumir o DA em agosto de 1967, não podia prever onde ela me levaria. Se o primeiro semestre de 1968 não tivesse sido tão intenso na radicalização do movimento estudantil, eu teria entregado a presidência a meu sucessor e voltado para os bancos e laboratórios da faculdade para terminar o meu curso, tornando-me um (infeliz e provavelmente, medíocre) engenheiro químico. Paradoxalmente, a ditadura me salvou deste destino.
Ao ser preso ao final daquela que ainda considerávamos a última grande manifestação estudantil do semestre, em junho de 1968, fui acusado de ter queimado um jipe do exército e submetido a julgamento em uma auditoria militar. A partir daí um conjunto de fatores passou a decidir o meu destino.
A reação à minha prisão desencadeou uma série de manifestações que culminaram no que ficou conhecido como a “sexta feira sangrenta”. A violência da repressão policial e a resistência de estudantes e populares gerou as condições políticas para a “passeata dos cem mil” No Rio de Janeiro. Em todo o Brasil eclodiram manifestações de grande porte, algumas (proporcionalmente) ainda maiores que as do Rio de Janeiro, sobretudo em Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Goiânia, Brasília, Curitiba e Porto Alegre. Em todas estas manifestações, a militância da AP (partido que eu tinha integrado em abril) multiplicou faixas, bandeiras e pixações pedindo “liberdade para Jean Marc”. Do dia para noite, eu passei a ser conhecido no movimento estudantil de todo o país.
Até então, a AP tinha como candidatos a suceder a Luiz Travassos, militante do partido em São Paulo e presidente da UNE, lideranças como Honestino Guimarães (FEUB – Brasília) e Valdo Silva (UFMG – Belo Horizonte). Eu era, até as manifestações de junho, apenas um presidente de DA de uma pequena faculdade, em um estado onde predominava a Di-Gb, cujo presidente, Wladimir Palmeira, saíra da passeata dos cem mil como forte candidato à sucessão de Travassos pelas organizações de esquerda em oposição à AP.
A minha prisão me tornou conhecido nacionalmente, enquanto a minha gestão como presidente do DA da química me trouxe o respeito de todas as tendências, levando a Di-Gb a me propor ser um dos vice-presidentes da chapa que estavam construindo, apesar da minha filiação à AP.
O processo na auditoria militar, que pude responder em liberdade depois das grandes manifestações de junho, criou o elemento chave para a nova encruzilhada. Eu estava (corretamente) convencido que iria ser condenado, tal a sanha dos militares contra o “atentado” contra o carro do exército que me acusavam (incorretamente) de queimar.
Eu tinha três opções pela frente:
- Aceitar a condenação e passar, na pior das hipóteses, dois anos detido;
- Aceitar a proposta do meu pai, de fugir para a Suíça (de onde ele migrara para o Brasil em 1942) e ir completar meus estudos naquele país, onde vivia toda a sua família;
- Ir para a clandestinidade e passar a ser um militante a tempo integral até a queda do regime (ou até a minha prisão ou morte, riscos a serem considerados).
Eu já estava decidido a passar para uma militância mais radical, mesmo antes da prisão e da condenação, mas estes fatos precipitaram a minha opção. Ao decidir pela clandestinidade, eu era ainda um entre vários possíveis candidatos a presidente da UNE. Na verdade, eu era a quinta opção da AP, cuja coordenação estudantil tinha restrições à minha candidatura à presidência, dada a minha muito recente adesão ao partido e também pelo fato de que era um militante indisciplinado e que tendia a fazer as coisas pela minha cabeça. Entre outros embates com o partido, eu tinha me oposto (internamente) à decisão do partido de disputar com a oposição a responsabilidade pela montagem do XXX congresso da UNE, que quase levou a um racha da entidade. Por outro lado, tanto Honestino quanto Valdo tinham sido derrotados nas eleições para suas sucessões, realizadas antes do congresso de Ibiúna.
Em mais um ato do destino, Travassos precipitou a decisão da AP, lançando por conta própria a minha candidatura à presidência da UNE em uma conferência de imprensa em São Paulo, logo depois da minha condenação em uma auditoria militar no Rio de Janeiro, dias antes do congresso de Ibiúna, em outubro.
Em um tempo em que as comunicações eram precárias, toda a militância da AP no país tomou conhecimento pelos jornais e TVs que eu era o candidato e passaram a agir de acordo. O comando nacional estudantil da AP engoliu o gesto de Travassos e eu, o menos experiente de todos os pré-candidatos, passei a ser o ungido.
Daí para frente, o destino me favoreceu em outros momentos. O primeiro foi a minha fuga mirabolante depois da queda do congresso de Ibiúna. Se tivesse sido identificado pelos agentes do DOPS que me interrogaram em São Paulo, eu teria sido trazido para o Rio de Janeiro para cumprir a pena de dois anos da auditoria militar. Certamente eu teria sido solto no sequestro do embaixador americano, junto com Travassos e Wladimir. Provavelmente não teria sido candidato à presidente da UNE por estar preso.
Em outro momento, no congresso que a UNE organizou depois da queda de Ibiúna, o balanço dos votos entre a minha chapa e a do Dirceu me dava uma vitória por 7 votos em um total de uns 800, mas o presidente interino da UNE, no lugar de Travassos (preso), Arantes, da Di-SP, pediu a anulação de um dos “congressinhos” realizados de forma descentralizada para evitar os riscos de queda. Era o congressinho de Campina Grande, na Paraíba, onde o escore tinha sido dez a zero a meu favor. O pretexto para a anulação era o fato de que o representante da chapa do Dirceu não tinha participado do evento, segundo eles por ter sido impedido pelos organizadores, vinculados à AP. O debate na plenária do Congresso chegou a um impasse e Arantes declarou que se o congressinho não fosse anulado, a UNE racharia ali mesmo. Pedi um tempo de reflexão e a plenária foi suspensa.
Estava por propor à direção da AP naquele evento que teríamos de engolir o golpe, apesar de todo mundo saber que a Universidade Federal da Paraíba, campus de Campina Grande, era um feudo da AP e que os votos eram legitimamente nossos. Eu não queria ficar na história do ME como o pivô de um racha que levaria a UNE a uma divisão fatal, sobretudo na conjuntura de aumento exponencial da repressão após o AI-5.
O destino interveio na pessoa do presidente da UEE da Paraíba, militante da AP. Ele veio falar comigo no intervalo para me dizer que o representante do Dirceu no congressinho de Campina Grande estava no local do nosso encontro, na qualidade de segurança do Arantes. Ele me apontou o sujeito e eu o reconheci, o Ronaldo, um militante do movimento dos comensais do Calabouço, restaurante estudantil do Rio de Janeiro e que depois foi preso e banido em troca do embaixador alemão. Eu tinha ótimas relações com toda a direção da FUEC (Frente Unida dos Estudantes do Calabouço) e fui falar com o Ronaldo. Perguntei simplesmente se era verdade que ele tinha tido a sua participação boicotada no congressinho de Campina Grande e ele confirmou a versão da AP sobre o episódio. Ele admitiu que faltou ao ponto de encontro para viajar de João Pessoa para Campina Grande porque dormiu demais! Pedi que confirmasse na plenária e temi que recusasse, já que ia prejudicar seu correligionário, mas ele foi corretíssimo e repetiu a história sem hesitar. Embora decepcionado, Arantes admitiu a derrota e me cumprimentou como o novo presidente da UNE. A sorte ou o destino estavam a meu favor.
Na clandestinidade escapei de várias situações em que poderia ter sido preso, mas acabei caindo bobamente em um aparelho da AP onde não deveria ter ido. Como não fui reconhecido pelos agentes do DOPS que me prenderam, fui mandado para a Ilha das Flores como um dos militantes da AP recolhidos naquele operativo. Se fosse reconhecido teria sido, muito provavelmente, entregue para a Polícia do Exército, com grandes chances de morrer na tortura dada a sanha destes milicos contra mim, por causa do incêndio do carro.
A tortura não foi leve na marinha, muito pelo contrário, mas a sanha assassina não era a mesma, no meu caso, pelo menos. E o destino me ajudou outra vez, pela mão (armada) dos militantes da ALN e da Di-Gb, ao sequestrarem o embaixador americano no quarto ou quinto dia do meu interrogatório. Eu estava nas últimas, quando o CENIMAR suspendeu o interrogatório para se concentrar na busca do esconderijo do embaixador. Quando os torturadores voltaram, uma semana depois, minha situação tinha mudado, com a nomeação pela marinha do encarregado do inquérito da AP. Este comandante era um sujeito decente e totalmente desinformado sobre os processos de tortura e assassinatos cometidos nas três forças armadas. Ele suspendeu a incomunicabilidade e informou a justiça militar da nossa prisão, bloqueando a ação do CENIMAR. Passei a ser interrogado formalmente pelo encarregado do inquérito, com um escrivão tomando o meu depoimento e o mesmo ocorreu com todos os outros presos e presas.
O destino prega peças a favor e contra. Se por um lado o sequestro interrompeu a minha tortura, o fato de que eu tinha acabado de ser preso impediu que meu nome entrasse na lista dos trocados pelo embaixador americano, como me explicou o Gabeira em um breve contato quando ele passou pela Ilha das Flores. O comando guerrilheiro que elaborou a lista simplesmente não sabia que eu estava preso. Isto me valeu mais um ano e meio de cadeia até sair no último dos sequestros, o do embaixador suíço.
Que teria acontecido se tivesse saído na lista dos quinze presos trocados pelo americano? Teria ido para Cuba como Travassos? Acho que não. Luiz não tinha muitas opções e foi viver meio marginalizado em Cuba por um ano, já que não fazia parte das organizações de luta armada apoiadas pelos cubanos. Mas eu tinha. Era cidadão suíço com direito a passaporte e, muito provavelmente, teria ido para a Europa. Foi o que fiz um ano depois ao ser mandado para o Chile depois da troca dos setenta presos pelo embaixador suíço.
A encruzilhada seguinte foi atravessada com menos dúvidas, mas com alguns riscos potenciais.
Pouco mais de um ano depois da minha prisão e do sequestro do embaixador americano, fui transferido da Ilha das flores para o presídio da Força Aérea no Galeão. Mesmo entre situações horrorosas há pior e melhor ou menos ruim. O Galeão era muito pior. Para começar, o novo comandante do batalhão de fuzileiros navais que estava instalado na Ilha das Flores não era como o seu antecessor, um quadro do Cenimar e apoiador da tortura. Jader manteve conosco uma relação que se pode chamar de profissional. Sua maior “crueldade” foi negar aos presos a possibilidade de escutar os jogos da copa do mundo em que o Brasil foi tricampeão. “Comunista não é brasileiro”, teria dito, mas ninguém sabe se a frase foi um fake a ele atribuída. Em outubro fizemos uma greve de fome de oito dias sem que houvesse mais do que uma maldosa oferta de uma pesada feijoada na primeira refeição depois uma semana ingerindo água, sal e açúcar, três vezes ao dia.
Por outro lado, a base aérea do Galeão era comandada por um dos maiores facínoras entre os oficiais e soldados das três armas, o famigerado brigadeiro Burnier. As celas eram mais apertadas do que na Ilha das Flores e em cada uma vivíamos três presos, com espaço justo para nos esticarmos para dormir. A única vantagem relativa à Ilha das Flores era o banheiro (privada e chuveiro) dentro da cela. Uma janela gradeada a três metros do chão era a fonte de luz e ar. A única visão externa que tínhamos era a dos aviões decolando ou aterrissando no aeroporto e passando rapidamente pela nossa janelinha. As visitas eram curtas e assistidas por suboficiais que impediam qualquer contanto físico com os parentes e que intervinham nas conversas quando achavam necessário. O “banho de sol” era em uma espécie de garagem semi coberta onde éramos forçados a caminhar a um metro de distância um do outro sem poder falar durante meia hora e isto umas duas ou três vezes por semana. A comida era farta e ruim, mas provavelmente a mesma que comiam os soldados.
Quando o embaixador suíço foi sequestrado e meu nome incluído na lista eu fui separado dos meus dois companheiros de cela e isolado até a partida para o Chile. Foi nesta cela que o Burnier veio me ver. Abriu a porta e me inquiriu, com seu ar de todo poderoso:
“Você é parente do brigadeiro Carlos de Matos?” “Sim, é meu tio”, respondi.
“Seu tio bundão sempre teve simpatia por comunistas”.
Meu tio Carlos foi um “revolucionário” de 1964 e um anticomunista de carteirinha, mas um homem decente e generoso. Sim, ele tinha um amigo comunista, o chefe de Estado Maior da aeronáutica no momento do golpe, brigadeiro Aloísio Teixeira, herói da FAB na segunda guerra mundial. Sabendo que o facínora Burnier estava buscando o Teixeira para matá-lo, meu tio se antecipou e prendeu o amigo, mantendo-o sob sua custódia direta até as coisas se normalizarem, salvando-lhe a vida, fato que eu soube pelo próprio Teixeira quando ele foi visitar o filho que estava preso na Ilha das Flores.
Soube do sequestro do embaixador suíço uns cinco dias depois de ocorrido, quando chegaram ao Galeão o major Cerveira e seu filho adolescente, sequestrados no Uruguai e trazidos para o Rio de Janeiro. O garoto ficou em uma cela vizinha a nossa e logo escutamos um choro sentido de alguém muito apavorado. Conseguimos nos comunicar com ele pela parede e ficamos sabendo quem era e que que tinha acabado de ser preso. Nós já estávamos incomunicáveis desde o sequestro e não sabíamos de nada. Quando nos disse que o sequestro tinha ocorrido há cinco dias ficamos em pânico, já que nos outros casos anteriores tudo tinha se resolvido em três dias no máximo.
No dia seguinte fui levado da cela algemado com as mãos para trás e com um capuz. Gelei. O primeiro pensamento foi “mataram o suíço e o Burnier vai dar o troco”. Ao chegar a um recinto refrigerado e escutando um burburinho de várias pessoas pensei logo que era uma sala de tortura e passei a suar frio.
“Tirem as algemas e o capuz”, disse uma voz com autoridade e logo estava olhando para três sujeitos a paisana sentados em uma mesinha a minha frente.
“Você é Jean Marc von der Weid?” “Sou”, respondi com a boca seca.
“Você foi escolhido para ser libertado em troca do embaixador suíço sequestrado”.
Fiquei perplexo. Não esperava entrar em nenhuma lista de troca desde que não fui tirado no sequestro do embaixador alemão. A primeira lista, a do americano, tinha sido ecumênica, incluindo gente do Partidão (Gregório Bezerra) e da AP (Travassos). Desde que a VPR passou a fazer os sequestros somente militantes da luta armada (da própria VPR na maioria, mas também do MR-8, ex-Di-Gb, PCBR, Val-Palmares). Como fui parar na lista? E logo na lista de um sequestro que parecia estar tendo problemas?
“Tem certeza de que estou na lista? Afinal de contas, nem estou na luta armada”.
“Você está na primeira lista e queremos saber se você concorda em ser trocado”.
“Primeira lista? Há mais de uma lista? E desde quando precisam do acordo dos escolhidos?”
“Neste sequestro o governo impôs condições e recusou vários nomes e os sequestradores têm que apresentar nomes substitutos”. Estamos negociando”.
“Pelo que entendi não está seguro que haverá uma troca”.
“Isso mesmo. Se não houver um acordo sobre os nomes não haverá troca”.
Não ousei perguntar o que ocorreria se os sequestradores matassem o embaixador, mas a (posterior).
“Você só será trocado se quiser. O presidente Médici não quer que ninguém se exile sem querer”.
Mais uma perplexidade. Quem preferiria ficar preso nas mãos de uma ditadura assassina ao invés de ser libertado, mesmo que para o exílio?”
“Então? Quer sair ou não?”
Pensei depressa. Se digo que quero sair e o sequestro der merda e o embaixador morto a chance de uma vingança contra quem disse que queria sair seria maior do que para os que dissessem que queriam ficar, mas não podia tomar esta posição.
Encruzilhada.
A segurança seria dizer que não, mas independentemente de haver ou não troca a recusa seria um ato político de grande repercussão que não deixaria de ser explorada pelo regime. Seria apresentada como um voto de confiança nos meus algozes. Preferi correr o risco, mas tentar uma terceira via.
“Se não está assegurada a possibilidade da troca eu não tenho que fazer opção nenhuma. Digo que não sei”.
Meu interlocutor embatucou e trocou figurinhas com seus dois parceiros para concluir.
“Tudo bem. Pode responder mais tarde. Ponham ele numa solitária”.
Começava aí uma longa experiência que durou até o dia da nossa partida para o Chile.
No dia seguinte desta entrevista fui visitado pelo brigadeiro Burnier na minha solitária.
“Dizem que você é cidadão suíço. É verdade?” “Sim. Tenho dupla nacionalidade”.
“Pois reze para que os sequestradores não matem o embaixador. Se isto acontecer pelo menos você, o único da lista que está nas minhas mãos, vai morrer. Fica um suiço pelo outro. Qua, qua, qua!”.
Passei os quase 30 dias restantes em que duraram as negociações com esta espada pairando sobre a minha cabeça.
Os militares encarregados da troca com os sequestradores entenderam a minha posição como sendo indefinida (e não como uma tática de adiamento, buscando segurança) e decidiram me pressionar para que me recusasse a ser trocado. Poucos dias depois deste primeiro encontro, fui levado a uma sala de reuniões na base aérea onde dois coronéis do exército conversaram comigo por umas três horas.
Começaram por me dizer que se aceitasse a troca seria banido do Brasil para todo o sempre. Pensei com os meus botões que nem eles ficariam no poder para sempre nem que poderiam me impedir de voltar clandestino ao país. Em seguida passaram a me perguntar as razões da minha participação no movimento contra o regime.
Fiz uma longa exposição da minha posição sobre a Reforma Universitária e depois defendi de forma genérica o anseio pela democracia e pelos interesses nacionais. O debate foi muito favorável aos meus argumentos pois os milicos tentaram defender o regime como democrático e até anti-imperialista. Foi divertido apontar as contradições entre o que diziam e o que fazia o regime e eles ficaram sem ter o que dizer. Mas foram discussões amigáveis e educadas, embora fossem bastante primários.
Mais alguns dias, fui levado a outra entrevista, desta vez com dois civis que se apresentaram como técnicos do MEC (Ministério da Educação e Cultura). Foi uma longa discussão sobre ensino e reforma universitária, sem que os dois mostrassem maior convicção em seus argumentos. Mais uma vitória para mim.
Depois disso, houve uma mudança de tática e o próximo encontro foi com a minha família levada para “me convencer a ficar”. Vigiados por vários oficiais trocamos abraços comovidos e logo nos separaram e deram a palavra à minha mãe.
Com voz firme mamãe disse simplesmente: “educamos você para assumir suas responsabilidades de acordo com o seu entendimento. Qualquer decisão que você tomar será apoiada por nós”.
A conversa foi interrompida pelos irritados milicos e fui mandado de volta para a minha cela.
No dia seguinte fizeram outra tentativa. O sargento que me levou para a sala de reunião me disse que eu ia encontrar com a minha noiva e eu fiquei perplexo. Noiva? Quando fui preso namorava a Maria Alice, mas logo comuniquei a ela que ia ficar preso por muito tempo e a nossa relação não tinha futuro. Pessoa sensata, a Maria casou-se tempos depois com um amigo. Quem seria esta noiva?
Na sala encontrei a Gris (irmã do Jaime Cardoso, meu companheiro de cela na Ilha das Flores por um ano), que eu tinha conhecido em um breve contato durante uma visita das famílias aos presos. Depois disso nunca mais nos vimos (as visitas do Jaime passaram a ser em dias diferentes das minhas), e trocamos cartas durante meses, mas daí a ser minha noiva ia um passo muito grande.
Fiquei sabendo mais tarde que quando fui transferido da Ilha das flores para o Galeão, minha família ficou dias sem saber onde eu estava e visitou todos os presídios militares do Rio a minha procura. Gris, que tinha feito amizade com meus pais, juntou-se a eles nesta busca e quando foi chamada nos presídios visitados para explicar o que estava fazendo lá, já que não era da família, afirmou ser minha noiva. Gris foi a penúltima cartada dos milicos para me convencer a ficar e não deixaram de me provocar perguntando se eu pretendia abandonar aquela beldade.
Foi outro encontro frustrado para os milicos. Gris ignorou as restrições de contato impostas pelos guardas e me abraçou, dizendo-me ao ouvido que iria me encontrar onde quer que eu fosse. Fiquei entre atônito e comovido com esta declaração, mas o mero encontro com a Gris depois de semanas de solitária foi um bálsamo para mim.
Os últimos passos nesta encruzilhada foram dados dias antes e no próprio dia da viagem dos 70, que viemos a chamar de “o voo da liberdade”.
Antes dos trocados começarem a chegar no Galeão para a viagem eu tinha recebido uma visita de um coronel que se apresentou como ajudante de ordens do chefe da Casa Militar, o general Figueiredo. Abrindo um volumoso dossier, o milico me disse simplesmente que era portador de uma proposta do governo.
“Você tem uma condenação de dois anos pelo processo da viatura do exército incendiada, mas há um recurso apresentado no STF e nós podemos sinalizar que você deve ser inocentado. Tens ainda duas acusações, militância na AP e a presidência da UNE. A primeira pode levar à absolvição, se quisermos, mas a segunda vai gerar uma condenação porque você assumiu o crime. Há um outro processo que podemos extinguir, mas a presidência da UNE vai te valer uns cinco anos. Como já tens ano e meio de prisão em mais seis meses podes ganhar a liberdade, se quisermos. O que te propomos é isso: você se recusa a sair e te soltamos em seis meses e podes voltar a sua vida anterior, desde que se limite a atividades políticas permitidas.” Mais uma vez disse que ia pensar.
Na manhã do dia da viagem fiquei sabendo pelos guardas que meus companheiros na troca já estavam todos no Galeão e com isso fiquei seguro que o processo de negociação estava terminado e o acordo concluído, garantindo a libertação dos presos. Quando me levaram para uma sala da base aérea eu já esperava ser reunido com o grupo, mas tive a surpresa de encontrar um civil, jovem e descolado, com cara de garotão da zona sul do Rio, que se apresentou como sendo da Polícia Federal.
Tirou de uma maleta do tipo 007, um papel e uma caneta e disse simplesmente: “chegou a hora. Vai sair ou vai ficar? Escreva a sua resposta e assine.”
Respirei fundo e escrevi:
“Saio, porque a liberdade é o bem mais precioso que uma pessoa ou uma sociedade podem almejar”. Assinei e entreguei.
O sujeito sorriu e abriu a maleta, tirando uma pistola automática. Congelei. Resposta errada, pensei, atônito. Ele apenas botou o meu depoimento na maleta, colocou a arma encima e fechou. Uff!
“Acabo de ganhar uma garrafa de uísque. Apostei com um colega que você ia sair. Boa viagem.”
Tudo está bem quando acaba bem, pensei, aliviado, enquanto me levavam para o galpão onde me esperavam os outros 69 trocados. Minha tática de adiamento da decisão teria sido desnecessária, já que os sequestradores tinham adotado a posição de negociar com o regime, algo que tinha oposição entre os militantes que participaram do sequestro e entre os próprios milicos.
A escolha de ficar nunca foi uma opção para mim, pelas razões expostas acima e apesar da oposição da AP aos sequestros e à própria luta armada naquele momento. Mas foi um grande alívio não ter sido colocado diante da opção concreta de ficar ou de morrer. Sem ter passado por esta situação, não posso afirmar que teria optado por morrer heroicamente.
Jean Marc von der Weid

Presidente da UNE entre 1969 e 1971
Fundador da ONG Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) em 1983
Membro do CONDRAF/MDA entre 2004 e 2016 Militante do movimento Geração 68 sempre na Luta


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