Francisco Celso Calmon
Quando um primo exonerado é causa para desestabilizar a harmonia entre os poderes, é sinal de que os alicerces da democracia institucional estão apodrecendo.
O jagunço da chantagem está em fúria, não tem estatura para o cargo, quando nutre e desaba pelo sentimento de desavença pessoal e postura da ameaça e intimidação, típicas de chefe mafioso.
Como seus meses de presidente da Câmara Federal estão findando e o seu substituto pode não ser seu capacho, seu desespero aumenta.
Todo governo progressista se viu historicamente cercado pelos três êmes, militares, mídia e mercado; o atual ainda conta com um Congresso extremamente hostil, composto por conservadores e reacionários, de natureza ideológica neonazifascista, dentro de um contexto internacional beligerante e de avanço da extrema direita.
E tal qual um quinta-coluna, o Bob Neto, presidente do BC, trabalha contra o Brasil, sabota a política econômica do governo. Representando os interesses dos rentistas e dos alienígenas, prestes a encerrar o mandato, está aumentando a sua ousadia e articulando com seus colegas bolsonaristas no Legislativo quer aumentar a independência do Banco Central, fazendo dessa autarquia um poder autônomo e sem controle dos poderes republicanos.
O que hoje prejudica o governo Lula, amanhã pode estar prejudicando o próximo governo. O calendário de renovação dos diretores favorece ao governo anterior, de maneira que o governo eleito pode sofrer sabotagem como o atual está, basta que o governo posterior seja de oposição ao anterior.
Cercado por todos os lados, ensina a estratégia escolher o lado menos resistente para romper ou flexibilizar o cerco. Qual será?
Virar uma página significa ter lido-a, entendido, e resolvido suas consequências deletérias. Enquanto estiver processando, a página da história não deve ser virada.
As tréguas com o imperialismo serão sempre efêmeras, circunstanciais e de interesses dos EUA.
As atuais gerações devem se inspirar na geração internacional do ano de 1968 e retomar a nossa luta antes que se tornem cúmplices da tragédia neonazifascista que abate sobre o mundo. É preciso dizer Não às guerras, é preciso dizer Não à barbárie, é preciso dizer Não ao capitalismo predatório. É preciso dizer Sim à paz, é preciso dizer Sim à civilidade, é preciso dizer Sim ao sistema socialista como alternativa ao capitalismo, é preciso sobretudo dizer Sim à democracia.
É imperioso que as atuais gerações combatam a alienação produzida pelas redes sociais e empunhem as bandeiras que permanecem atuais e foram erguidas pela geração do ano que politicamente não acabou – 1968.
Havia um movimento internacional de rebeldia da juventude e de trabalhadores contra os costumes burgueses e o sistema econômico, e no Brasil havia uma luta de resistência à ditadura, oriunda do golpe de 1964, que derrubou o projeto de nação do legítimo governo de João Goulart.
Projeto argamassado pelas reformas de base, as quais até o presente não foram realizadas e nem retomadas como bandeiras de lutas, substituídas pelo objetivo das três refeições.
Alimenta a barriga, mas não produz sonho, não acalenta a utopia de um mundo de paz, abundância, solidariedade e felicidade. Não galvaniza corações e mentes. É o pragmatismo de curto prazo. É o aqui e agora, num processo de alienação da atual contradição principal entre o fascismo e a democracia.
Juventude que não é revolucionária, é geração sem ideal, desprovida de sonho coletivo, sem ser protagonista do vir a ser da história.
Ressuscitar a luta contra o imperialismo anglo-americano é tarefa imperiosa.
Parece que Lula escolheu o lado militar para romper ou flexibilizar o cerco. Somente assim haverá um pouco de lógica em sua atitude de censura ao seu governo de rememorar o golpe de 64 com denúncia e indignação.
A justiça de transição foi a moeda de troca!
Nós da Rede Memória, Verdade e Justiça – RBMVJ – não aceitamos, não negociamos os nossos direitos de reparação aos mortos e desparecidos pela ditadura militar, aos anistiandos na torturante fila que não anda, bem como ao dever do Estado em criminalizar os golpistas de ontem e de hoje – será a justiça reversa.

Francisco CelsoCalmon
Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Foi líder estudantil no ES e Rio de Janeiro. Participou da resistência armada à ditadura militar, sendo sequestrado e torturado. Formado em análise de sistemas, advocacia e administração de empresas. Foi gestor de empresas pública, privada e estatal. Membro da Frente Brasil Popular. Autor dos livros “Sequestro moral e o PT com isso?” e “Combates pela Democracia”, coautor dos Livros “Resistência ao Golpe de 2016” e “Uma sentença anunciada – O Processo Lula”. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo. Articulista de jornais e livros, coordenador do canal Pororoca.


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